a Sobre o tempo que passa: Os cordéis inconscientes da velha sociedade de corte

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

24.10.05

Os cordéis inconscientes da velha sociedade de corte



Acordo em mais um dia e mais uma semana onde tenho de enfrentar esta decadência política e social em estado de revolta individual. Danado, sobretudo, com este estúpido equilíbrio bipolarizado de um rotativismo, onde os actuais governantes já desistiram da alternativa e se mantêm como mera alternância do dominante Bloco do Centrão, não mudando, na essência, as regras do jogo, nem desalojando os efectivos donos do poder dos nichos onde os mesmos se acoitam. Assim, os ministros, deste e do anterior governo, não passam de meros cordéis de uma sociedade de corte, onde os cinzentões neocorporativos manipulam os subsídios e os holofotes do prestígio e da visibilidade mediática, para gáudio dos eternos idiotas úteis que vão sendo devorados pelo clássico "divide para reinar".



Têm poder, não os que tomaram posse dos cadeirões, dos gabinetes e dos assessores, mas os que enceneram a récita, os que vão dizendo para os seus pares lobísticos que os ministros passam, mas eles vão ficando a ver as bandas passar pelos palácios da ilusão. Com efeito, os ministros, secretários de estado, altos-comissários, secretários-gerais, directores-gerais, deputados, chefes de gabinete, assessores e novos directores de jornais, vão ladrando discursos que outros já fizeram, enquanto a caravana das ordens em forma de conselho vai ficando empanturrada. Assim, os governos não passam da parte visível de um "iceberg" assente nos representantes dos sindicatos dos eternos situacionistas, algumas vezes com os seus cardeais-primazes, acobertados na sombra de um qualquer organismo mostrengo que ninguém elegeu.

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