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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.1.06

Das revoltas militares anti-sidonistas (1919) à contestação de Sinel de Cordes (1927), ou de como se semeava o salazarismo



Cunha Leal, sidonista, anti-sidonista, esquerdista, direitista, inspirador do 28 de Maio, inimigo da diatadura, português livre


No âmbito das efemérides lusitanas, pouco referidas pelas enciclopédias, importa assinalar que nesta data, no ano de 1919, o pós-sidonismo sem Sidónio começava a resvalar da frustrada República Nova para a inevitável República Velha, com o começo da revolta de Santarém, capitaneada por uma junta constituída por Álvaro de Castro, Francisco da Cunha Leal e o coronel Jaime de Figueiredo que declara querer acabar com a influência monárquica no poder, depurar o exército e defender em todos os campos e inalteravelmente a República. Defendem a nomeação de um governo presidido por Nunes da Ponte, com o general Tamagnini de Abreu como ministro da guerra. Mas este antigo comandante do CEP até chefiava as tropas governamentais que se dirigiam para Santarém, tendo o apoio do coronel Andrade Velez. Já o poder estabelecido emitia uma nota oficiosa onde se denunciava a existência de prenúncios de um movimento revolucionário capitaneado por democratas e secundado por agentes bolchevistas. O sidonismo entrava em regime de canto do cisne.



Sinel, o inspirador dos golpes anti-republicanos, ministro das finanças da ditadura que quebrou a regeneração financeira republicana, da autoria de Álvaro de Castro, continuada por Marques Guedes. Do seu fracasso vai resultar a chamada de Salazar ao poder

Oito anos depois, já em regime de Ditadura Nacional, onde foi substituído Portugal pelo nacionalismo que é uma maneira de acabar com os partidos (Almada Negreiros), surgia a questão do Grande Empréstimo, depois de o ministro das finanças, Sinel de Cordes, em Londres, a contactar com o Governador do Banco de Inglaterra, tendo em vista um grande empréstimo a Portugal, desde 4 de Janeiro, depois de ser criada uma polícia especial de informações de carácter secreto junto do Governo Civil de Lisboa pelo Decreto nº 12 972 (5 de Janeiro) e de pagarmos a primeira amortização da dívida de guerra (125 000 libras) aos britânicos, conforme acordo firmado seis dias antes (6 de Janeiro). Com efeito, em 12 de Janeiro de 1927, vários grupos oposicionistas declaram ilegitimidade da Ditadura para conduzir as negociações de um grande empréstimo através da Sociedade das Nações. Há manifestações junto da Embaixada britânica e das legações da França e dos Estados Unidos da América, subscrevendo o protesto o Partido Republicano Português, a Esquerda Democrática, o Partido Republicano Radical, a Acção Republicana, o Partido Socialista Português, o Partido Republicano Nacionalista e o grupo da Seara Nova. São imediatamente resos os principais peticionários.