Uma campanha sem bom-senso e até sem bom-gosto
De como Balsemão respondeu às denúncias de Soares, na primeira página do seu semanário
A doze dias do fim desta peregrinação politiqueira de uma campanha dita eleitoral, resta saber se ainda é o povo quem mais ordena, mas antes quem controla o esquema de rede no qual o país parece encurralado, desde as teias banco-burocráticas aos esquemas de controlo da mediacracia, num sistema que tem como cúpula uma partidocracia, demasiadamente participada por desempregados sociais e revolucionários frustrados. Permanecente parece apenas ser certo sonho de devorismo possidente, manipulando símbolos como os da religião e das universidades concordatárias, da pátria e dos cargos desempenhados, da cultura e do próprio desporto.
Entretanto, os fantasmas de esquerda, em vez de retomarem a luta antitotalitária e de descoberta do real, isto é, das novas formas de opressão e de repressão, voltam a antigas vestimentas leninistas, trotskistas, estalinistas e maoistas, nas suas ridículas traduções em calão do vanguardismo, para que assim possa passar incólume certo autoritarismo inquisitorial, fradesco e catedratista. A invocação do mero antifascismo, onde não faltaram assassinatos políticos dos dois lados da barricada, não significa o mesmo do que mobilização para a luta de libertação, contra os subsistemas de medo que nos vão corroendo por dentro, repetindo os tradicionais erros de certo guerrilheirismo patuleia que, quando entra em desespero costuma cair na demagogia populista, sem bom-senso e até sem bom-gosto.
O erro do soberba intelectualóide de certos apoiantes de algumas candidaturas anticavaquistas não tem permitido que o falso elitismo, oriundo da extrema-esquerda burguesa passe aos banhos de multidão da gente simples, preferindo as tácticas de bridge capitaleiras e burguesas, que nunca hão-de conseguir corporizar qualquer movimento de resistência e de libertação nacionais. As cliques minoritárias da chamada seita da cultura, brincando aos saneamentos e às manifestações encenadas não nos dá lastro para a necessária revolta.
Campanha continua a ser palanque e encenação, com comícios, jantaradas e arruadas para televisão filmar, impedindo que os debates políticos se transformem em luta de ideias, porque os bonecos candidatáveis que passam no écran do videopoder, apenas parecem representar guiões previamente ensaiados pelos assessores de imagem e pelos directores de comunicação, para cumprimento de um abstracto e geométrico "agenda setting", acordado entre os directores de campanha e os donos da programação televisiva. Temos assim mais "reality shows" do que telenovelas e corremos o risco que a intervenção do povo seja mero episódio referendário, num espectáculo que pode vir a ser mera consequência deste paralelograma de forças, previamanete ocupado por aquilo que podemos qualificar como métodos não democráticos de conquista do poder.
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