a Sobre o tempo que passa: Sharon, cultura do rigor, gripe das aves, preços da energia e o novo partido da FNAP

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

5.1.06

Sharon, cultura do rigor, gripe das aves, preços da energia e o novo partido da FNAP



Neste nosso "in illo tempore" em que nos vamos acrescentando pela desassossegada esperança de estarmos vivos, continuando a saudável perturbação da falsa ordem instalada, onde endireitas que foram bonzos ameaçam suceder aos canhotos que continuam os bonzos a que temos direita, importa fazer história do presente, relembrando para resistir, que sempre foi conservar o que deve ser contra os conservadores do que está. Por isso, tentarei rememorar sempre que os dias tiverem marcas. Porque foi-se Arafat, ameaça ir-se Sharon, como se foi o Rabin e ficou o Peres, essas folhas do tempo que se arrancam, todos estes nossos companheiros de telejornal, na mais demorada guerra deste mundo. E o general que já foi porco fascista, parece agora ser do centro e pela paz, estando nas mãos de Alá ou Jeová, para que Deus o ajude e que o Irão não possa riscar Israel do mapa.



Hoje podia recordar a vaga de prisões que encheu os calabouços da Pide de comunistas, neste dia de 1955, ou de como no ano de 1989 entraram os telemóveis em funcionamento nas cidades de Lisboa e do Porto, ainda antes da queda do muro. Mas reparo que se deu mais um atentado bombista de sunitas contra xiitas, com Maniche a ser recrutado pelo Chelsea, quando me chegam palavras de Cavaco, clamando pela cultura do rigor, da transparência e do mérito nas nomeações, como se ele não tivesse sido o criador do Estado-Laranja, esse pequeno mostrengo da empregomania, onde nunca houve "boys", grupos de pressão, grupos de interesse, corrupção ou "pantouflage", graças ao recrutamento de paradigmas tão ilustres quanto Manuel Dias Loureiro, Ângelo Correia ou Álvaro Barreto. Foram só nomeações postas em boas mãos, sem Valentim Loureiro nem Isaltino de Morais, que afinal seguiram a má tradição da cultura banco-burocrática.

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Imagem de Fernando Arrabal

Reparo que o Banco de Portugal está pessimista, que os inquilinos ricos vão pagar mais renda, que os impostos baixaram o poder de compra, que o cabecilha de um gang assassino de polícias foi preso, que a Iberdrola hoje não deu parangonas, mas que a electricidade vai descer na indústria à custa das famílias, com o petróleo a subir, sem que chegue o crescimento e melhore a competitividade.


Imagem de Fernando Arrabal

Porque morreu uma miúda turca, vítima da gripe das aves e a OMS alerta para uma possível viragem dramática da pandemia, que nos recorda a pneumónica dos tempos de Sidónio, já depois das aparições de Fátima. Aguardam-se os judiciosos comentários de Cavaco, Soares, Alegre, Jerónimo, Louçã e Garcia, depois dos primeiros discursos sobre a matéria, proferidos por Pinto da Costa e Luís Filipe Vieira. Entretanto, surgiram cartazes clamando por Zé Mourinho ao poder, enquanto se anuncia a criação de um novo partido, dito Fundação Nacional para a Alegria na Política, que não será financiado pelo russo do Chelsea.