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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

4.1.06

Há dezasseis anos que morreu Camus...



Porque sempre fui atraído pelo reflexionismo francês, por esse pensamento do midi, especialmente quando ele reflecte a luminosidade mediterrânica, não posso deixar de assinalar que foi há dezasseis anos que faleceu Albert Camus, esse teórico do existencialismo com esperança que, no ano em que nasci, publicou esse meu manual de cabeceira chamado "O Homem Revoltado", contra o marxismo, o jacobinismo e o niilismo, lançando as sementes daquele humanismo activista para quem todas as revoluções acabam por revigorar o Estado, mesmo quando perdem o fulgor terrorista dos PRECs.

Este escritor francês, nascido em Argel no ano de 1913, foi membro do Partido Comunista de 1922 a 1937, e destacado militante da resistência e colaborador de Combat. Prémio Nobel da literatura em 1947. Logo em 1943 publicou as célebres Cartas a um Amigo Alemão, em nome, não de um francês, mas sim de nós, europeus livres. Distancia-se dos existencialistas ligados ao marxismio, como Sartre, Simone Beauvoir e Merleau-Ponty. Morre em acidente de viação em 1960, já distante da esquerda e da direita.

Porque "arrasada a Cidade de Deus, o sonho profético de Marx e as potentes antecipações de Hegel e de Nietzsche acabaram por suscitar um Estado racional ou irracional, mas terrorista em qualquer dos casos". Esta heteronomia seria potenciada pelas próprias revoluções dos tempos modernos:"todas as revoluções modernas conduziram a um revigoramento do Estado. 1789 produz Napoleão; 1848, Napoleão III; 1917, Estaline; os tumultos italianos dos anos 20, Mussolini; a República de Weimar, Hitler. "

Neste sentido considera que "é preciso voltar ao conceito grego que é a autonomia", dado que "todas as revoluções modernas conduzem a um revigoramento do Estado" e que "o sonho profético de Marx e as potentes antecipações de Hegel ou de Nietzsche acabaram por suscitar um estado, racional ou irracional, mas terrorista em qualquer caso". Então "o Estado identifica se com a máquina, isto é, com o conjunto dos mecanismos da conquista e repressão. A conquista dirigida para o interior do país chama se propaganda ou repressão. Dirigida para o exterior cria o exército"( porque "para adorar por tempos e tempos um teorema, a fé não chega; há ainda que mobilizar a polícia". E "enquanto houver inimigos, reinará o terror, e haverá sempre inimigos enquanto o dinamismo existir e para que ele exista".