Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...
• Bicadas recentes
Estes "breves aforismos conspiradores, sofridos neste exílio interno, lá para os lados de São Julião da Ericeira, de costas para a Corte e com os sonhos postos no Atlântico..." começaram a ser editados em Setembro de 2004, retomando o blogue "Pela Santa Liberdade", nascido em Maio de 2003, por quem sempre se assumiu como "um tradicionalista que detesta os reaccionários", e que "para ser de direita, tem de assumir-se como um radical do centro. Um liberal liberdadeiro deve ser libertacionista para servir a justiça. Tal como um nacionalista que assuma a armilar tem de ser mais universalista do que soberanista". Passam, depois, a assumir-se como "Postais conspiradores, emitidos da praia da Junqueira, no antigo município de Belém, de que foi presidente da câmara Alexandre Herculano, ainda de costas para a Corte e com os sonhos postos no Atlântico, nesta varanda voltada para o Tejo". Como dizia mestre Herculano, ao definir o essencial de um liberal: "Há uma cousa em que supponho que ate os meus mais entranhaveis inimigos me fazem justiça; e é que não costumo calar nem attenuar as proprias opiniões onde e quando, por dever moral ou juridico, tenho de manifestá-las"......
Este portal é pago pela minha bolsa privada e visa apenas ajudar os meus aluno. Não tive, nem pedi, qualquer ajuda à subsidiocracia europeia ou estatal
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Viradeira, assassinatos políticos, personalizações do poder e balança da Europa, com classe alta à mistura
Hoje, no ano de 1777, morria D. José e começava aquilo que nos está na massa do sangue político e social, a viradeira, esse ensaio de salazarismo que o regime joanino tentou superar, não fosse Napoleão e D. Carlota e o lastro de absolutismo importado e de beatério reaccionário. Daí que tenhamos de recordar o assassinato político do marquês de Loulé em Salvaterra, no ano de 1824, coisas que cumuladas levaram a que no ano de 1842 se tenha iniciado o cabralismo a cem por cento, porque foi neste dia que António Bernardo da Costa Cabral foi nomeado ministro do reino. E de nada nos valeu que no ano de 1912 António José de Almeida tivesse fundado o Partido Republicano Evolucionista, onde até militava o ex-anarquista e futuro pregador salazarento Alfredo Pimenta, e que, na mesma data, quatro anos depois, se tenha dado a apreensão de um primeiro navio alemão surto no Tejo.
Portugal sempre sofreu os balanços da balança da Europa e da balança do mundo, a não ser quando entendeu o mundo como armilar e tratou de ver mais alto, sem recorrer às lentes de contacto das pretensas classes altas dos estoris e das fozes do douro, com os distintos intelectuários que as mesmas vão mobilizando para a respectiva sociedade de corte, onde já não há trono nem altar, mas tacho banco-burocrático, com alguns traseiros judiciais expostos em pouco sossego e esperança num convite para a próxima tomada de posse do futuro inquilino do palácio de Belém.
Como professor e, logo, membro do antigo clero não eclesiástico, reparo como as boas coisas desta sociedade de ordens, que eram as práticas do princípio da igualdade de oportunidades entre o clero universitário e eclesiástico e a nobreza funcional dos militares, acabam por ser subvertidas pelo regresso dos filhos de algo, dos herdados e dos prendados, neste declive decadentista que tende para a inevitável e horrorosa revolta do povo contra os ricos, naquilo que sempre foram as revoluções, quando estas não conseguem ser domadas por uma qualquer personalização do poder e a inevitável esperança numa constipação mal tratada ou na queda do ditador em qualquer cadeira. Se os estados gerais não funcionarem a bastilha é inevitável.
Nucleares, amarantinos, tejeros, anarco-sindicalistas e luta contra a nova e velha escravatura
A efeméride que começo por assinalar ocorreu ontem, mesmo ontem, quando reparei como resultaram em cheio algumas operações de "marketing" comunicacional promovidas por certos grupos de pressão que, por acaso, tornaram o nuclear na propaganda do dia, para gáudio dos vendedores franceses de centrais experimentais, da multinacional "Siemens" e do representante mediático desta federação de legítimos interesses, chamado Patrick dos Veleiros com Farm nos States, que até há dias era o homem das petrolíferas e um dos accionistas da Galp. Conseguiram mostrar às massas que ser pelo nuclear é ser patriótico, obtiveram o apoio, bem útil e certamente pouco inocente, de uma pessoa colectiva pública engenheiral, da classe corporativa, porque foi Salazar que inventou as ordens, e tiveram ao seu lado, em nome da felicidade económica, as principais associações patronais, dando a imagem que só os idiotas "hippies" dos ambientalistas, especialistas na salvação do lince da Malcata e da ilhota da Utopia, é que estão contra a construção desse edifício salvacionista do nosso défice. Por mim, faço-lhes o gesto do Zé Povinho: "não, e não o faço obrigado!".
Até sou liberal sem ser sócio da Quercus. E sei, por informação científica certa, que tudo o que ganharíamos, imediatamente, com a tal palermice do mais barato e do mais limpo se conseguiria se os engenheiros convencessem a EDP, a indústria e o comércio a não desperdiçarem a energia actual com instalações cheias de buracos e anti-cientificamente instaladas. Porque o nosso eventual atraso pode ser a tal vulnerabilidade que deve ser transformada em potencialidade, passando para uma nova energia que vá além das chamadas renováveis, na qual deveríamos apostar em força, pedindo a cientistas independentes de subsídios que nos tragam um conhecimento diferente dos argumentos papalvos emitidos por Ângelo Correia que agora já não fala na crise dos "cartoons".
Apenas reparo que hoje, por coincidência de tolice, se deu, em 1823, a chamada revolta do conde de Amarante em Trás-os-Montes, quando, ao serviço dos interesses espanhóis e de D. Carlota Joaquina, sua irmã, se procurou pressionar D. João VI para não cumprir o plano joanino, que era o de termos um regime consensualista e anti-absolutista tradicional, com o regresso às cortes e a transformação das leis fundamentais numa carta constitucional, coisa que anteciparia a de 1826, mas sem guerra civil, permitindo aos Braganças que cumprissem a missão armilar de união pessoal com o Brasil. Por outras palavras, os apostólicos, ou "serviles", que utilizaram, porventura, o assassinato do marquês de Loulé e do próprio rei, não passaram de traidores dos objectivos nacionais permanentes.
E golpe falhado, por golpe idêntico, há que recordar coisa semelhante, ocorrida em Madrid em 1981, com Tejero de Molina, mas onde, felizmente, venceu a monarquia democrática e autonómica dos Bourbons, vindos de Paris. Por isso é com gosto que também comemoro a mesma data de 1869, quando se conseguiu, contra os grupos de pressão dos negreiros, disfarçados de burgueses e aristocretinos lisbonenses, o decreto sobre a abolição definitiva da escravatura em todos os espaços sob domínio dos portugueses, acabando com os adiamentos de aplicação do sonho de Sá da Bandeira, em nome da eficácia da gestão de certos latifúndios brasileiros de Angola. Não caiamos agora em nova escravatura, através do nuclear. Continuemos a libertar-nos e viva o hidrogénio.
Porque não quero recordar a fundação do PRD em 1985 ou a eleição de Guterres como secretário-geral do PS em 1992. Prefiro salientar também que, neste dia, em 1919, surgiu o jornal "A Batalha", quando o anarco-sindicalismo libertário era maior do que o comunismo junto do movimento operário e ainda havia cultura popular para ser feito um jornal apenas por operários, entre os quais estarão um tipógrafo como Alexandre Vieira e outros da mesma classe, como o futuro romancista Ferreira de Castro e o futuro historiador, sãotomense e portuguesíssimo, Mário Domingues. Viva o núcleo duro dos nossos capitalistas que conseguem mandar um homem para o espaço, pela compra de um bilhete de duzentos mil dólares! Abaixo o nuclear! Não quero ser cobaia...
Entre os desembarques de D. Miguel e D. Pedro e as homenagens por fazer a Paradela de Abreu e a Manuel Belchior
Hoje, aqui em Belém, no ano de 1828, desembarcou o senhor D. Miguel, tal como quatro anos depois, seu mano, D. Pedro, também nesta data, desembarcaria na ilha de São Miguel, para repor no trono a Rainha Menina, sua filha D. Maria da Glória, para que, entre estes desembarques, o povo se andasse a matar numa estúpida guerra civil, provocada pelos balanços da balança da Europa que fez dos nossos príncipes meras peças de um xadrez, onde só por milagre Portugal escapou independente.
Se, entre Pedro e Miguel, prefiro o que o segundo disse ao primeiro, em carta de exílio ( "por ti, esteve a inteligência sem honra, por mim, a honra sem inteligência"), já sou claramente partidário de D. Maria da Glória contra D. Carlota Joaquina, porque sou mais brasiliense do madrilófilo e mais adepto da aliança com britânicos e franceses que dos agentes da Santa Aliança, com prussianos e russos. Daí que acabasse por ter de desembarcar no Mindelo, em regime de estado de necessidade, embora preferisse poder ser um miguelista liberal, isto é, um joanino, mais adepto de Silvestre Pinheiro Ferreira que de Palmela e ferozmente anti-carlotista e anti-devorista. Sou azul e branco e gosto do perfil de Herculano.
Recordo também que neste dia, do ano de 1974, era posto à venda o livro de António de Spínola, "Portugal e o Futuro", onde o general e o respectivo editor, um tal Paradela de Abreu, fizeram mais contra o regime do Estado Novo que já estava velho do que muitas dezenas de antifascistas de café e pose. O falecido Paradela, tão lusitanamente instável quanto era legionário, mas da Legião Estrangeira, ou aluno da velha Escola Colonial, agora dita ISCSP, a tal que faz cem anos e é a minha escola, cumpriu assim sua missão de libertacionista e, continuando fiel aos seus impulsos, há-de voltar a ser, durante o PREC, um operacional antitotalitário, assumindo alguma liderança no movimento Maria da Fonte.
Daí que os historiadores da vindicta o continuem a dar como chefe da "extrema-direita", nesses delírios habituais entre os frustrados do Maio de 68 que nunca hão-de perceber personalidades complexas como os falecidos Paradela ou Costa Gomes, preferindo conversas de salão com ex-ministros do Salazar que, detentores de altos tachos burocráticos nos regimes seguintes, tentam dizer, à maneira estalinista, que os heróis são sempre o asco traidor dos Talleyrand.
Por mim, prefiro os Paradela que perderam sempre, deixando que o povo ganhasse. Até mantenho integrais simpatias pelos Spínola e pelos Salgueiro Maia. E não me esqueço do grande inspirador doutrinário do livro que derrubou Salazar e Caetano, Manuel Belchior, o grande consultor de Spínola em matéria de política africana, que foi desapossado do título de doutor por manipulação decretina, só porque tinha simpatias marcelistas.
O velho Belchior, o apaixonado pelos povos islâmicos da Guiné-Bissau, de fulas e mandingas, bem merecia que o recordassem, especialmente num momento em que até nos falta a dimensão de um general Pedro Cardoso, para nos honrar os muitos soldados islâmicos que deram a sua vida pela bandeira portuguesa. Só com honra e inteligência podemos interpretar as relações entre humanismos maçónicos, cristãos e islâmicos, neste país que tanto foi azul e branco como é vermelho e verde, sempre em nome da armilar.
O problema português continua a estar na circunstância de não sabermos casar a honra com a inteligência, a pátria com a liberdade e a justiça com a eficácia na gestão. A nossa grande estupidez continua a estar nas estalinistas literaturas de justificação dos revisionismos históricos e na consequente história dos vencedores, que não atinge a humaníssima perspectiva das memórias de libertação e das consequentes comunidades de amor. E ninguém resolve estas complexidades com as simplificações ideologistas de quintal, porque, na prática, a teoria é outra e quem lê livros de teóricos miguelistas e pedristas, ou de marcelistas e antifascistas, se lhes tirar as capas, os nomes dos autores e os carimbos diabolizantes, confundirá as páginas e até pode acreditar nas biografias que os sobrinhos escrevem sobre os tios ou os afilhados sobre os padrinhos nas enciclopédias e dicionários históricos que precisam de subsídios de ministros e fundações para serem editados.
A não ser que trate de frequentar um desses mestrados de sacristia saneadora, abençoando a extrema-esquerda que agora faz genuflexão aos novos donos do poder, com muito protestantismo importado, dito "neolib", e algum providencialismo reaccionário de pacotilha, dito "neocon", para pretender descobrir o que já está descoberto, sem saber quem foram os "british liberales" (sic) ou que "The Federalist" foi traduzido por um miguelista exilado no Brasil, ainda antes do século XIX chegar ao meio.
21 de Fevereiro de 1848. Portugal, o país mais marxista do mundo!
Hoje, há três coisas neste dia passadas, mas noutras eras, que merecem recordação: em 1972, Richard Nixon visitou Pequim, abrindo as portas da globalização; em 1970, Marcello Caetano transformava o anti-partido do partido único do salazarismo que, mantendo-se a mesma treta, mudava o nome de União Nacional para Acção Nacional Popular; em 1848 era publicado o Manifesto Comunista, de Marx e Engels.
Nixon já morreu. Marcello Caetano já morreu. Os cemitérios estão cheios de insubstituíveis. Só as ideias vencem a lei da morte. E algumas instituições que, assentes numa ideia de obra ou de empresa, conseguem praticar algumas regras de processo que obedeçam a princípios gerais de direito e gerar manifestações de comunhão entre os aderentes. Nixon já morreu. Marcello Caetano já morreu. Marx está vivo. Foi um dos maiores pensadores universais. O seu partido comunista, na versão PCUS, reinterpretada por Lenine e Estaline, implodiu. Mas o seu SPD ainda aí está, graças a sucessivos revisionismos, nomeadamente ao de Eduard Bernstein que, entre nós, é considerado mestre por José Sócrates, Francisco Pinto Balsemão e Aníbal Cavaco Silva. Basta recordar que também Lenine e Estaline eram militantes do PSD russo.
Por outras palavras, no dia do manifesto de Marx e Engels, importa recordar que o Portugal político é o país mais à esquerda da Europa, dado que a esquerda dominante é socialista democrático e a oposição liderante de direita é social-democrata. Isto é, tanto a esquerda como a direita ainda continuam marxistas, não-leninistas, mas revisionistas. No rigor da ideologia e da história, esta é uma afirmação correcta, embora politicamente incorrecta.
Porque ninguém pode negar que o PPD fundacional admitia a inspiração marxista, que o PS era claramente marxista e que até o CDS de Freitas apresentava projectos de constituição em nome do socialismo humanista. Porque ninguém pode negar que a própria JSD chegou a adoptar "A Internacional" como hino da organização, quando fazia congressos com os retratos de Marx e Engels na parede. Porque ninguém pode negar que o PSD retirou o marxismo do programa bem depois do PS de Constâncio o ter concretizado, copiando ambos o que o SPD tinha feito no Congresso de Bad-Godesberg de 1959. Coisas bem mais substanciais do que a habitual historieta que põe Durão Barroso como jovem maoísta do MRPP antes de passar para presidente da Comissão Europeia, com prévia passagem pelo centro de desmarxização universal, anti-Bin Laden, da universidade de Georgetown, onde precedeu Nuno Severiano Teixeira.
Talvez até ainda possa ser até mais correcto: Portugal político é o país mais hipócrita do mundo. Porque fez partidos de cima para baixo. E só sobreviveram os que saltaram para o cavalo do poder governamental na ditadura revolucionária dos governos provisórios (PCP, PS e PPD), ou o que teve assente no Conselho de Estado da altura (CDS). Assim se repetiu o salazarismo, que também criou o partido único da União Nacional por resolução do conselho de ministros: Tal como o partido democrata-cristão do Centro Católico Português foi instituído por deliberação da conferência episcopal em 1917. Somos obedientes, reverentes e obrigados, filhos da Inquisição, do devorismo e do partido único de Afonso Costa. Isto é, temos medo do Estado.
E depois de 1974, porque era moda, fizemos democracia com partidos onde os dirigentes estavam à esquerda dos militantes e os militantes à esquerda dos votantes, com imensos fantasmas de direita e imensos preconceitos de esquerda. Felizmente, fomos escrevendo direito por linhas tortas e fazendo história sem processo histórico, porque não é a história que faz o homem, mas o homem que faz a história, mesmo sem saber que história vai fazendo. Por isso é que Marx merece o meu respeito. Viveu como pensou e não pensou como viveu. Marx ainda está vivo. Nixon e Caetano já morreram. Contudo, sempre preferi o partido de Alexis de Tocqueville e de Alexandre Herculano. De Leonardo Coimbra. E de Agostinho da Silva. Não alinho nos grupos revisionistas que transformaram antigos ministros de Salazar e Caetano em inspiradores ou neo-ministros. Viva Marx que nunca foi marxista!
Do nacionalismo liberal às guerras de papéis da bolonhesa
Não, nas efemérides de hoje, não vou recordar o que há um ano ainda não sei que aconteceu a Portugal. Prefiro ir um pouco mais atrás e assinalar que, em 1962, os norte-americanos, copiando os soviéticos, lançavam no espaço John Glenn, assim homenageando Gagarine, enquanto em Portugal, no ano de 1983, Francisco Lucas Pires assumia a presidência do então CDS, quando este partido corria o risco de se transformar num clube de viúvas do Professor Diogo, assim se confirmando o direito de termos, na Europa ocidental, a tal direita mais estúpida do mundo. A tal que teve especial prazer por estacionar na casa do Padre Cruz, ao Largo do Caldas, dado que por lá também hão-de poisar Adriano Moreira e Paulo Portas, antes de vermos o respectivo pai-fundador como ministro dos estrangeiros socialista, talvez para fazer com que a esquerda portuguesa apanhasse o mesmo vírus estupidificante.
Francisco Lucas Pires apenas foi a tal excepção que confirmou a regra. Fui seu aluno, deixei-me mobilizar politicamente por ele e entrei, então, pela primeira vez num partido, do qual iria sair quando se deu o regresso do professor Diogo, naquilo que foi uma barganha de viúvas. O signo mobilizador que há-de começar por marcar o pirismo tinha então a ilusão de podermos ter um "nacionalismo liberal", de acordo com um velho paradoxo pessoano, coisa que os "neolibs" e "neocons" de hoje não entendem, porque não faz parte das fichas das respectivas traduções em calão do anglo-americano.
O Francisco cometeu a heresia de se assumir como o primeiro homem do "establishment" a afirmar-se da direita, num partido de mariano dogma centrista, e como liberal, num pais socialista à direita e à esquerda. Infelizmente a semente que lançou acabou por se disseminar fora do grupo. Basta recordar que o secretário-geral que escolheu, o Vieira de Carvalho, passou a ser "histórico" do PSD e que este até tinha como chefe de gabinete o Fernando Seara e quem passar os olhos pelas fotos e nomes do período rirá a bandeiras despregadas com as habituais incoerências biográficas dos nossos políticos profissionais. Até me recordo de artigos publicados em semanários por jovens centristas, hoje muito à direita, denunciando a chegada do fascismo, repetindo discurso em São Bento de afamado profe de Coimbra, a recordar que a chegada de Lucas Pires ao parlamento era a entrada no templo da democracia do "fascismo quimicamente puro". Não enumero os respectivos nomes, eles eram apenas correias de transmissão daquela estupidificação que levou Freitas a ministro socialista.
Infelizmente, não posso continuar estas memórias, dado que as minhas tarefas de profe, me impõem que leia mais uma das reformas de licenciatura do chamado espírito da bolonhesa, que é o novo nome das veiga-simonices e das adrianices, antes de ter que meditar em transcendental em mais uma das guerras de papéis de outros "profes" e das suas psicanalíticas emanações verbais.
As explosões de Saturno, os carpidores-mores da república, memórias, irmã Lúcia, privatizações e fuga ao segredo
Uma poderosa tempestade está a abalar o corpo gasoso do planeta Saturno, o tal que tem cem vezes a massa da Terra, sítio onde ainda nos dividimos invocando um Profeta do século VII depois de Cristo, neste século I depois de Bill Gates, onde ainda tememos a gripe das aves e continuamos pequenos demias face ao mundo, face a um tempo que é eternidade e face a um espaço que é infinito. Daí que seja pequenina demais a questão Freitas, essa peça menor de uma máquina anónima que se pensa maior do que o seu próprio país, só porque se considera como uma espécie de monopolista da racionalidade importada, quando não passa de um cadáver adiado que procria decretos e nomeações burocráticas. Quase se assemelha a outros entes dessas outras eras em que ainda vivem, como o prtenso carpidor-mor da república, a quem encomendam homenagens e "reprises", só porque não tem coragem para descrever suas memórias.
Que hoje, sexta-feira, dia 17, se recorda o que se passou no ano de 1927, na sequência do falhado golpe do reviralho de 3 de Fevereiro, quando o apoio à Ditadura pré-salazarenta ainda conseguia sair à rua gritando contra a maçonaria, considerada a inspiradora da movimentação liderada por Sousa Dias. Tal como também é de lembrar o começo da assinatura do Acto Único Europeu de 1986, já quando estávamos formalmente integrados na então CEE, começando uma saga que tanto deu Maastricht e Nice, como o falhado tratado constitucional, só porque o decretino dos eurocratas tratou de comprimir a alma europeia e os homens livres que dela fazem militância.
Dizem as notícias que, depois de amanhã, o corpo morto da irmã Lúcia descerá à terra que a viu nascer, mas as televisões aproveitam a ocasião para transformar o sagrado numa reportagem sobre a venda de artigos religiosos em Fátima, confirmando-se que os escritos da vidente estão em bom lugar no "ranking" ads vendas, depois da Bíblia e da encíclica papal. Apenas diremos que o mau-gosto e a falta de bom-senso continuam, sem ser por causa dos "cartoons" de Mafoma, até porque Fátima era o nome de uma das filhas do mesmo.
Dizem também que o governo socialista se prepara para a venda dos últimos restos de participação do Estado nas cem empresas que restam do próprio socialismo. Ficará para a ideologia o eterno comunismo burocrático e a rede banco-burocrática do chamado capitalismo de Estado, tentando salvar a anunciada falência da segurança social.
Finalmente, sabe-se que polícias e magistrados entraram numa redacção e no domicílio de um jornalista, apreendendo computadores e tentando assim deter a rede que tem permitido sucessivas fugas de informação judicial. Como se quem bebe do fino não soubesse como informalmente se mantêm redes informais de recolha de informação junto do esquema de acesso a circuitos ditos de segredo de justiça, de segredo fiscal, de segredo bancário ou de segredo de Estado ou de simples e lucrativa "inside information", onde a falta de deontologia e o desleixo permitem a montagem de esquemas da velha persiganga, sem qualquer profissionalismo do tipo cabalístico. Basta ir almoçar a certos restaurantes e tascas e estar de ouvido atento.