Entre testas de ferro e cabeças de apito
Todas as grandes fortunas da nossa pós-revolução devorista se fizeram graças àquela mistura de socialismo de consumo e liberalismo a retalho de uma certa economia mística que tanto socializa os prejuízos como privatiza os lucros, segundo certa lógica merceeira do salve-se quem puder e do faz-de-conta que transformou os centros comerciais em novas catedrais e os balcões da banca hipotecária em pouco discretos confessionários. Daí que, nesta sociedade de casino, se tenha aberto o leilão do país em saldos. Assim reparo que uma das estrelas deste capitalismo lusitano anuncie querer papar uma das antigas joías da coroa do nosso capitalismo de Estado, enquanto muitas testas de ferro se vão movimentando.
Assim se confirma a verdade globalizadora e pouco armilar segundo a qual o capital não tem cor nem pátria, entre a vontade de comer de uma nacional francesa multinacional e a vontade de não ser comida de outra nacional multinacional cá da península, enquanto voltam os velhos vendedores de sucata nuclear, ao mesmo tempo que os defensores acirrados da globalização de há algumas semanas fazem agora o discurso nacionalista de defesa dos centros de decisão capitalista cá das berças.
Enquanto isto, as nossas glórias do pedibola, do velho glorioso ao eterno lagarto quase levam nas trombas dos pequeninos, ao mesmo tempo que fogem aos segredos do processo as acusações judiciais, onde um conhecido político é acusado de "capo" de conspiração, por uso da respectiva influência política e um outro fazedor de parangonas aparece como sacristão da movimentação, com palavras de corrupção no subentendido, como se esta apenas pudesse ser provada para relvados e não para partidos, obras públicas e autarquias, apesar de alguns dos protagonistas coincidirem no palco. E, entre testas de ferro e cabeças de apito, resta-nos ir votando, pagando impostos e jogando no euromilhões e no betandwin.
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