Recordando Thomas More e manifestando-me contra utopias e ideologias
Levado pelo ritmo das memórias de Agostinho, esqueci-me de assinalar que, entre as efemérides de hoje, para além da revolta anti-miguelista de Lisboa do ano de 1831, foi assinado, em 1992, o tratado de Maastricht e nasceu, em 1478, um tal Thomas More, ex-ministro britânico da justiça e santo pela Igreja de Roma, amigo de Erasmo e autor da tal metáfora da Utopia, De optimo rei publicae statu deque nova insula Utopia (1516). Nasce em Londres. Estuda direito em Oxford até 1501. Membro do parlamento desde 1504, ainda com Henrique VII. Passa para o serviço do rei em 1518. Speaker em 1523. Lorde-chanceler desde 1529. Entra em conflito com Henrique VIII e apresenta a demissão em 16 de Maio 1532, quando o rei se assume como chefe da Igreja, em conflito com Roma. Condenado à morte por traição. Executado em Tower Hill em 1535.
Apenas recordo que utopia, etimologicamente falando é o sem lugar (topos). Um lugar anti-lugar, imaginário, onde o sistema social e político é considerado perfeito, nomeadamente pelo facto de todos os cidadãos poderem ver satisfeitas as respectivas necessidades materiais. Por outras palavras, as utopias representam uma fuga ao real e, portanto, uma renúncia, uma negação do mundo e dos seus conflitos (Jean Servier). Porque estão fora do espaço e do tempo, são estáticas face ao processo histórico e escrevem-se em sociedades cujos membros perderam a esperança de progresso e aspiram a um invencível equilíbrio estável como forma de travagem do declínio, como dizia Arnold Toynbee. E, tal como as ideologias, conduzem a uma atitude de desespero porque se traduzem num mero exercício mental ( pensa-se , não se vive) que pretende fornecer um modelo planificado do que deveria ser, segundo Garcia Pelayo.
Como recordava Agostinho da Silva, o equivalente à utopia, em português camoniano, é a Ilha dos Amores. Tem lugar e formas. E vale mais experimentá-la do que julgá-la. Embora tenha que julgá-la quem não a pode experimentar.
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