A necessária pátria da discórdia criativa que tenha amor pela complexidade
A Europa, que devia ser uma democracia de muitas democracias, perdeu o sonho do Congresso de Montreux, de 1947, quando, segundo Rougemont, ainda era uma "pátria da discórdia criativa", assente no "amor pela complexidade e num programa de "dividir para unificar", dividir os estadualismos e soberanismos herdeiros de impérios antipolíticos e libertando nações sem Estado, retomar a senda da "res publica christiana" ou da república universal.
Ora, não me parece que a defunta constituição valéria, nascida de um acordo do PPE com o PSE, consiga que o projecto europeu se institucionalize, segundo os clássicos conselhos de Hauriou. Porque não bastam regras estatutárias, mesmo oriundas de uma constituição-pudim. Antes de tudo, é urgente uma ideia de obra ou de empresa e, depois, que se gerem manifestações de comunhão entre os membros da instituição. Se não houver esse plebiscito quotidiano, a Europa nunca será uma comunidade das coisas que se amam.
Voltou hoje ao ritmo das aulas na cidade capitaleira e entro numa universidade que está à espera do senhor ninguém, a que hoje damos o nome de bolonhocracia que é coisa que os magníficos reitores e o meu reitor-primaz negoceiam com a excelência ministerial das universidades, da ciência e dos dinheiros do FCT. Coisa tão abstractamente redutora e tão jacobinamente pombalista quanto foram as patetices da burocracia dita reformadora do veiga-simonismo, ou dita avaliadora do adrianismo, esses rolos compressores de homens livres que contribuíram para que a culpa morresse sempre solteira e que os cemitérios continuassem cheios de insubstituíveis, especialmente dos psicopatas sentenciadores que querem continuar a emitir deduções cronológicas e analíticas.
Reparo na notícia do "Correio da Manhã" sobre os 49 euros e não sei quantos com que o historiador-deputado não sei quantos, militante do santanismo, paga como renda de um andar, concedido pela vereação lisboeta também santanista, só porque ele tem um centro qualquer de que é o único sócio. E angustia-me ter que ir para uma dessas sessões universitárias, à espera de Bolonha, do Conselho de Reitores, do Ministro da Ciência ou dos eurocratas, onde manda quem não pode e tem que obedecer quem não deve.
Talvez por isso me veio à ideia a criação de um movimento rebelde que ajude à resitência dos homens livres que estão fartos desta santa aliança de socialistas e salazarentos que foi usurpando os meandros do ninguém da construção europeia e dos lóbis que não uivam do ensino dito privado, dito público, dito concordatário e dito cooperativo, onde uma gerontocracia abstracta, aliada a intelectuais e políticos frustrados nos continua a oprimir. Talvez tenha chegado a hora de um novo "studium generale", de uma verdadeira unidiversidade, de uma "universitas scientiarum" que não esteja dependente do programa colectivista de reformas e da habitual camarilha que, depois de chorudamente aposentada, pretende continuar a mandar na liberdade de ensinar e aprender. Estou disponível para uma construção feita em nome da razão, da vontade e dessa terceira potência da alma a que sempre se chamou imaginação. Abaixo os bonzos da ciência e da universidade! Vivam os homens livres!
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