a Sobre o tempo que passa: Timor, temor, amor, mas sem circo nem intriga

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

26.5.06

Timor, temor, amor, mas sem circo nem intriga



Vou à agenda das efemérides e reparo que em 2004, na data de hoje, o FCP de Mourinho, vencia a Liga dos Campeões, mas ontem a nossa selecção de sub-21 averbava a sua segunda derrota do campeonato das esperanças, num jogo televisivamente transmitido, antes de ser emitida uma incómoda entrevista de Daniel Proença de Carvalho sobre a questão das magistraturas em Portugal e de se saber que Rosa Mota já não é a maratonista, mas mais uma das vozes incómodas do processo Casa Pia, naquilo que muitos consideram a ponta de lança de um iceberg ainda e talvez para sempre submerso.

Em Timor, entre o amor e a dor, proclamam os jornais que actualmente “é impossível dizer quem é quem e de que lado está”, até porque o presidente Xanana Gusmão, abrigado nas montanhas, manteve contactos com líderes da força internacional, mas o ministro do Interior, Rogério Lobato, e o chefe da PNTL, Paulo Martins, estão incontactáveis e em local incerto. Já em Lisboa, o ex-vice-presidente da AR e o actual deputado europeu das quatro estações, ambos dirigentes do partido anti-tralha, promoviam um jantar político-universitário-jubilado com a senhora embaixadora de Dili. O país chorava a derrota da Jugoslávia no recente referendo realizado no Montenegro, terra do meu querido Milovan Djilas.



Continuo a ler a jornalada e reparo que o Grupo de Estados contra a Corrupção (GRECO), do Conselho da Europa, tornou ontem público o relatório sobre o combate ao crime económico relativo a Portugal. Além da "falta de uma estratégia de combate à corrupção", o relatório resulta num retrato que pode ajudar a compreender as razões para a falta de resultados no combate à corrupção. Nos jornais também se lê que, na terra de Bush, o antigo presidente executivo da Enron Kenneth Lay foi considerado culpado pela prática de fraude e conspiração, no âmbito do maior escândalo financeiro nos Estados Unidos, que resultou na falência do maior grupo energético do país. Por cá, o juiz do processo «Casa Pia» estava em Timor há dois meses. Regressou no sábado porque o Estado português não lhe pagou os ordenados. Há mais três juízes a trabalhar no território. Mas só Teixeira não recebeu

Leio a parangona: Direita contra procriação assistida. Concluo o que há muito aqui tenho dito. Se isto é a direita, eu sou da extrema-esquerda. Não gosto da tralha nem dos pretensos saneadores de tralha. E não é preciso voltar à agenda das efemérides, onde também na data de hoje, mas no ano 2000, o Vaticano divulgou a terceira parte do chamado segredo de Fátima, matéria sobre a qual se espera novo romance de Dan Brown, a tempo de Manuel de Oliveira ainda poder realizar um filme, subsidiável pelo futuro ministro da cultura, que tanto pode ser Paulo Portas, recentemente convidado por Narana Coissoró para ser professor no que resta de universidades internacionalmente modernas, como Manuel Maria Carrilho, que, segundo dizem algumas agências de comunicação, anda a escrever um livro sobre outra efeméride da data de hoje, a participação da falange visiense no I Congresso da União Nacional, de 1934.



Em Timor, entrou em espiral alkatiriana, a ideia de construção do Estado, embora todos os lusíadas esperem que vença a ideia xananista de construção da nação, sem necessidade de advogados petrolíferos contabilizando cadáveres e lendo memórias de Henry Kissinger, porque basta uma conversa com o meu querido Padre Felgueiras, com quem não falo desde os tempos de Cernache, e que bem devia ser ouvido pelos poderes lusitanos, dado que na mentalidade de certos orientais, pretensamente especialistas em oriente, não há convergência, divergência nem emergência da complexidade crescente do bom padre Teilhard de Chardin, mas simples mistura de circo e de intriga, em perpétuo movimento de apoio à canonização de José Maria Escrivá.



Prefiro voltar a ler Rui Cinatti ou as recentes reflexões do Professor José Matoso que mantém a sabedoria do silêncio, passeando-se nas ruas de Lisboa. Para mim, ainda há o bem e o mal, segundo o universalismo da concepção do mundo e da vida dos estóicos e dos judaico-cristãos, entre o chamado humanismo laico e o chamado humanismo cristão, sem importação de árvores exóticas que, além de estragarem a paisagem são massas implosivas que provocam incêndios. Porque, do bem e do mal, têm volutas de massa cinzenta, onde a racionalidade finalística da intriga e do circo entra em conflito com a racionalidade axiológica das lealdades básicas.