Uma direita com problemas de coluna
Por ironia do destino, os desabafos do professor Diogo acontecem quando o seu CDS, tendo a liderá-lo o seu antigo adjunto e discípulo, José Ribeiro e Castro, entra na Batalha contra aquilo que o mais histórico dos históricos dos cristianíssimos democratas do Caldas qualificou, muito hinduisticamente, como a tralha portista. Apenas poderemos confirmar que os nossos endireitas, sobretudo os que se dizem a bola do supercentro, entalada entre a decadente seta da direita e a ascendente seta da esquerda, sempre padeceram de um problema de coluna moral, bem protagonizada pelos sucessivos marechais que vão escolhendo.
O marechal fundador Freitas sempre esteve rigorosamente onde vai acabar a sua carreira política, entre os fantasmas de direita e os preconceitos de esquerda.
O segundo presidente veio a ser deputado europeu pelo PSD, ajudando a integrar este partido no PPE. O respectivo secretário-geral, presidente de câmara nortenha já antes de 1974, continuou como autarca pelo CDS e pelo PSD.
O terceiro presidente, marechal vindo de um ministério salazarista, acabou de braço dado com Mário Soares e alto hierarca dos regimes geridos pelo PS e pelo PSD, mas já sem idade para poder ser ministro da defesa ou dos estrangeiros de Guterres, Barroso, Santana Lopes ou Sócrates, embora o lugar de embaixador no Vaticano chegasse a ser ponderado, algumas vezes. O secretário-geral deste terceiro, é presidente da câmara social-democrata da terceira maior autarquia do país.
O quarto presidente é o primeiro presidente, já referido, servindo para que o futuro sétimo presidente regressasse ao partido, depois de andar a fazer campanha pelo PSD.
O quinto presidente, que fez aderir ao partido o sexto presidente, vindo do PSD, acabou por fundar um novo partido. Ao que parece é dos poucos que não veio nem se passou para a militância do PSD.
O sexto presidente, feito ministro em coligação com o partido adversário de que tinha sido presidente, pediu a supensão da liderança e é actualmente o principal ausente-presente, face a um sétimo presidente.
O actual sétimo presidente percebe o que quer dizer a frase de D. Miguel, segundo a qual é difícil em Portugal casar a honra com a inteligência.
O partido mais à direita da direita, continuando a ser a direita que convém à esquerda, gosta mais de dizer que é do centro-direita e até gostaria que pudesse haver um partido mais à direita que lhe desse respeitabilidade junto da esquerda com quem gosta de nomear ministros. Continua a saga de ter um discurso programático à esquerda dos respectivos líderes, líderes à esquerda dos respectivos militantes e militantes à esquerda dos respectivos eleitores.
Porque, na prática, a teoria é outra, de boas intenções está o inferno da direita cheio, onde a sucessiva deserção dos marechais provoca o desemprego das respectivas viúvas carpideiras, num tempo em que os partidos são cada vez mais grandes empresas públicas multinacionais, gerindo fundos estruturais europeus e estatais, mas onde a soma de todos os respectivos militantes pode mostrar que, em termos de eleições directas, os ditos não mobilizam mais gente do que os eleitores que se mobilizam para a eleição dos presidentes do F. C. do Porto, do Sporting e do Benfica.
Os partidos da direita que temos podem transformar-se em meros alvarás cobrindo um vazio de ideias de obra e de manifestações de comunhão entre os respectivos aderentes, transformando-se naquilo que um antigo hierarca de um deles dizia: somos um grupo de amigos que cordialmente se odeiam.
A direita que temos, a tal que está à direita sem ser de direita, não precisa de ser mais à direita ou de pedir que venha um partido mais à direita para poder ganhar respeitabilidade junto dos parceiros de esquerda situacionista que os podem chamar para o poder.
No fundo, a respectiva coluna invertebrada é tão moluscular quanto a de um primeiro-ministro socialista que veio da militância do PSD, quanto o anterior primeiro-ministro do PSD veio do MRPP, para não falarmos dos ex-PCP que agora são deputados da direita ou agentes dos capitalismo multinacional.
Como dizia a Arte de Furtar, de 1652, todos falam de política, muitos compõem livros dela e no cabo nenhum a viu, nem sabe de que cor é. Até porque: a primeira máxima de toda a política do mundo que todos os seus preceitos encerram em dois, como temos dito, o bom para mim e o mau para vós. Ao aceitar a regra de viva quem vence. E vence quem mais pode, e quem mais pode tenha tudo por seu, porque tudo se lhe rende.
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