Memórias da última reeleição de Tomás e da Convenção do Gramido, nesta velha gestão de dependências, a que damos o nome de independência
Nos finais da Primavera de 1972, Francisco Sá Carneiro tentava encontrar um candidato alternativo, chegando a contactar, por carta, António de Spínola, em 15 de Junho. Através de Francisco Balsemão, procuram-se também outras alternativas, desde Venâncio Deslandes a Kaúlza de Arriaga. Sá Carneiro contacta Spínola indirectamente, através de Carlos Azeredo e chega a falar no Porto com Almeida Bruno e Dias Lima, colaboradores do general. Entretanto, António de Spínola chega a Lisboa (24 de Junho), antes de haver reunião da comissão central da ANP, onde se decide pela ratificação da proposta de Caetano, depois de Tomás responder, também por escrito, no sentido da aceitação (30 de Junho). Finalmente, reúne o colégio eleitoral que reelege Tomás em 25 de Julho. Há 29 listas nulas e 616 votos a favor.
Prefiro acentuar os enredos da Convenção do Gramido. Assinam-na Loulé e António César Vasconcelos Correia pelos patuleias, na presença dos espanhóis general D. Manuel Gutierrez de la Concha, coronel Buenaga e o inglês coronel W. Wylde (24 de Junho). E tudo acontece na aldeia do Gramido, freguesia de Santa Maria de Campanha. Como salienta Oliveira Martins, o povo voltava para casa, chorando: chorando assistira à entrada de Concha.
Com a Convenção, imposta por forças militares estrangeiras, em nome da Quádrupla Aliança de 1834, a Santa Liberdade acabara usurpada. Como então chega a proclamar Rodrigues Sampaio, deixávamos de ter uma coroa pela graça de Deus e pela Constituição, dado que a mesma passava a sê-lo por graça dos aliados, ingleses e espanhóis, sobretudo, e vontade do estrangeiro.
Por outras palavras, a partir do segundo quartel do século XIX somos casca de nós no oceano balançoso da Europa, coisa de que apenas tivemos a ilusão de sair durante o salazarismo, quando passámos a viver a balança euro-atlântica, depois de irmos para a fundação da NATO e da OECE. Agora, feitos província do euro e departamento da globalização, temos que reavivar a velha tradição do nosso milagre independentista, reaprendendo a necessária gestão das dependências, pelo golpe de asa das interdependências. Nada de novo sob a bandeira das quinas! Que nisto de fábricas da Opel, a coisa não é o mesmo do que um jogo de onze contra onze num relvado verde, porque Sócrates até já nem pode brincar ao monetarismo de Alves dos Reis, como o cavaquismo governamental ainda podia fazer na década gloriosa da cobitação com o soarismo presidencial, entre 1985 e 1995. Apenas desejamos que Cavaco não passe a Xanana e que Sócrates não se reduza à dimensão de Alkatiri. Portanto, que viva Scolari!
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