a Sobre o tempo que passa: Rousseau, Sérgio, Deutsch, Weil e Opções Inadiáveis

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

29.6.06

Rousseau, Sérgio, Deutsch, Weil e Opções Inadiáveis

Por causa daquilo que ontem aqui rescrevi sobre Rousseau, recebi sinais contraditórios, desde os habituais apoios aos tradicionais preconceitos reaccionários (strictu sensu) que não querem reparar no genebrino como um desses geniais recriadores das teses de Platão, Suárez ou Espinosa, onde as parábolas não são ideologia de caricatura. Desenganem-se os recolectores das modas que passam de moda. Não evolui nada nessa leitura de Rousseau, apenas repito o que proclamei desde a minha dissertação de doutoramento e que há cerca de um quarto século proclamo desde que tenho licença para dar a minha própria matéria. Sou do partido de Espinosa, Rousseau e Kant, desse subsolo filosófico liberalão e humanista que advoga o radicalismo do indivisus contra os colectivismo que nos querem arrebanhar. Julgo até que o Contrato Social é a peça literária mais maravilhosa de toda a nossa civilização.

Claro que, sobre o autor, apenas repito o que, dele, foi vislumbrado por autores como o português António Sérgio, por politólogos como Karl Deutsch ou por filósofos como Eric Weil. Apenas noto que a subtil distinção que faz entre a vontade geral e a vontade de todos, é equivalente às categorias suarezistas da vontade como universal e à vontade como singular, nesse exercício onde o próprio jesuíta da neo-escolástica peninsular permitiu a conciliação com o imperativo categórico de Kant. Refazer guerras civis ideológicas por causa do nosso pai comum da civilização demoliberal é quase equivalente às teses que distintos membros deste governo emitiram quanto a Platão, considerando-o pai do totalitarismo comunista. Por causa destas e doutras é que continuaria a desembarcar na praia do Mindelo, sob a bandeira azul e branca da liberdade.

Com efeito, parcas são as memórias assinalar na data de hoje, onde apenas importa referir o aparecimento em 1978 do grupo "Opções Inadiáveis", uma quase dissidência do PSD que se assume como não seguidista face à acutilância anti-sistémica de Sá Carneiro. Na altura, José Miguel Júdice, ainda não liberto totalmente da nebulosa criativa do espaço dito nacional-revolucionário, que glosava José António Primo de Rivera, também editava Portugal à Deriva, nas edições do Templo, dirigidas por Luís Sá Cunha e José Valle de Figueiredo. Estávamos na véspera do VI Congresso do PSD no cinema Roma em Lisboa (dia 1 e 2 de Julho), com o regresso de Sá Carneiro à liderança, mas quando o grupo das Opções Inadiáveis mantinha a maioria do grupo parlamentar. Nas eleições para o Conselho Nacional, os sá-carneiristas conseguem 21 lugares contra 9 da oposição, liderada por Francisco Pinto Balsemão e Ferreira Júnior. Mas, sob a alçada de Sá Carneiro, regressa ao partido Carlos Macedo, dissidente de Aveiro, e entram como militantes, entre outros, Natália Correia, Dórdio Guimarães e Luís Fontoura.