a Sobre o tempo que passa: Viva Portugal! Dos Magriços aos Labrecas....

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

2.7.06

Viva Portugal! Dos Magriços aos Labrecas....

Vim agorinha da SIC-Notícias, onde fui ler os jornais diários e comentá-los, passei pelo computador, li "mails" comentariantes dos comentários, desde os que chamaram comuna afrancesado da seita do Pacheco, aos que perceberam o subliminar e foram ao sítio onde quis dar a canelada. E futeboleiro que sou, olhei para as cicratizes que guardei das velhas sarrafadas que recebi no campo de futebol da Eira Pedrinha, quando alinhava no Juventus de Cernache e onde nunca fui lá nenhum Ronaldo, dado que, já então, levava e dava muita porrada, talvez por ter começado no "rugby".

Bem tentei fazer passar a mensagem do regresso das identidades proibidas através do futebol, desse entendimento de um povo como uma comunidade de significações partilhadas, onde o que antes era Eusébio, Amália e Fátima, com Magriço de 1966, hoje se diz Scolari, Nelly Furtado e Fátima, mais uma vez. Porque os Ronaldo, os Figo, os Ricardo e os Mourinho são os sucessores dos Otto Glória e seus rapazes, onde, em vez de Salazar e Tomás, temos Sócrates e Cavaco, mas o mesmo povo refugiado no futebol para garantir um refúgio de identidade.

E mais tentei dizer, sobre a guerra psicológica de um "mister", sobre uma França sem gauleses, para irritação da Frente Nacional e sobre uma Europa que, em termos de futebol, cumpre a profecia de Agostinho da Silva, sobre vir a ser um novo Brasil, porque a África joga através de nós que sucessivamente nos vamos reidentificando.

E mais disse sobre algo que nos transmitiu Dominique Wolton, para quem não deviámos continuar a ter vergonha do passado colonial, onde, por perdermos a guerra, redescobrimos o outro, reconhecendo como tão ou mais inteligente do que nós, enquanto os norte-americanos, fabricando a sua ilusão de história dos vencedores, não conseguem compreender que o mundo é maior do que Hollywood e do que as multinacionais e a geofinança. Até nem reparam que o nomral anormal dos atentados do Iraque não pode continuar.

Claro que fui desagradável para o aproveitamento político-partidário do futebol, que serviu às mil maravilhas para que o Secretariado da Propaganda Nacional despachasse o Freitas e para que ninguém fale no quotidiano que vai além das defesas do Ricardo e que tem a ver com IRS e PRACE, ou crimes de Santa Comba e recordações do julgamento da Casa Pia. Felizmente que os pinhais não têm ardido e que ninguém repara nas entrevistas de uma vice-presidente do PSD, partido onde apenas se inscreveu em 1995, ao "Diário de Notícias", em duas longas páginas, onde apenas emerge um anúncio da Universidade Atlântica, a falar a bolonhismo. Por acaso, a senhora advogada em causa era advogada da mesma instituição, onde pontificava Marques Mendes quando ainda andava sem candeias às avessas com Isaltino, dado que a câmara de Oeiras é que manda na coisa.

Quem não entender que o jogo da política tem a ver com a tal movimentação dos corpos intermédios, para citar a drª Paula, pode continuar a ser iludido pelas parangonas desta sociedade de casino, onde, afinal, o director artístico do Grande Casino foi detido por excesso de álcool na condução, sem que o patrão Stanley Ho o possa redimir, apesar de ser um dos principais financiadores dos partidos do Bloco Central que em nós mandam.

Confesso que também eu sofri com o jogo dos Magriços contra os anglos. Que reconheço as qualidades de Scolari e a identidade renascida da minha pátria, onde o nosso modelo de fazer novos brasis passa por não termos uma selecção de emigrantes feitos cidadãos por oportunismo, mas antes pelos miguéis e costinhas que já nasceram cá na terra e nos enriquecem, lado a lado com madeirenses e açorianos e sob o comando de gente do Atlântico Moreno que é outra das pátrias da nossa pluralidade de pertenças. Nosso abraço armilar, como o demonstra o futebol, é um belo exemplo do que deveríamos transportar para a política, onde o jogo de equipa devia ser a táctica. Viva Portugal!