a Sobre o tempo que passa: Por favor, não pisem meu pisar!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

6.2.07

Por favor, não pisem meu pisar!

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Convocados pelo ilustre líder, vistosos marechais do partido que já foi regenerador reuniram-se ontem em Lisboa para definir o novo "Bilhete de Identidade" da instituição, tendo em vista a Internet, as novas formas de comunicação e a biotecnologia.

O ilustre líder chamou-lhe "notáveis" e "naipe", embora só quatro deles possam fazer parte do conselho científico de um qualquer estabelecimento universitário português de ensino superior. Predominam,
naturalmente, os fidalgos da antiga governação, com um ex-chefe e um subchefe do governo, quatro membros financeiros, três ambientalistas, dois estrangeiros, dois educativos e dois da presidência, ficando apenas dois para a área parlamentação.

Esperemos que o futuro texto consiga misturar a velha herança de Eduard Bernstein com a matriz democrata-cristã do Partido Popular Europeu, através de um texto super-situacionista, capaz de garantir a mobilização dos interesses instalados, naquilo que pode ser a social-democracia do século XXII.

Não vou, naturalmente, aproveitar a ocasião para recordar a fotografia acima, com que alguns multicárpicos militantes do "não" tentaram recordar ao PS que quem se mete com os dogmas leva . Venho apenas notar que as novas fracturas da sociedade portuguesa, provocadas pelo estúpido confronto entre a política e a religião, revelam que o eleitorado jovem está contra o eleitorado mais idoso, que os católicos praticantes estão contra os que pertencem a outras categorias ecológicas e que a minha mãe, que quer votar pelo "sim", anda de igreja em igreja, a ver se consegue uma missa onde as homilias não sejam tempos de antena do "não". Disse-me que, finalmente, encontrou paz na missa dos franciscanos.

O regresso dos fantasmas do relaxamento ao braço secular fazem com que muitos voltem a reclamar o regresso do modelo de proibição do divórcio para os casamentos concordatários, pelo menos para os que não têm o privilégio de acesso facilitado à anulação romana, e até a eventual criminalização da homossexualidade, para não falarmos do regresso das fronteiras para efeitos de IVG, obrigando a cidadania do sexo feminino a ter qumenos para oe submeter-se a um teste de gravidez, a fim de poder sair de um espaço soberano de protecção da vida, antes de passar para a barbárie desses inimigos da civilização que são países como a Espanha, a França ou a Áustria.

De qualquer maneira, nada está perdido, dado que apenas temos de escolher entre o "video" do Professor Marcelo no "Youtube" ou a gargalhada do "Gato Fedorento", dado que os defensores da metafísica se assumiram como naturalistas, biologistas e superpositivistas, aliando-se aos tradicionais argumentários dos antigos inimigos do humanismo espiritualista, à boa maneira de Justus Lipsius e dos maquiavélicos pintados de cristãos, que sempre consideraram que os fins justificam os meios, esquecendo-se que atira pedradas às janelas dos outros, pode chegar a casa e achar as suas quabradas. Por favor, não pisem meu pisar!