A educação como factor de poder do Estado
Repito o que disse em Outubro de 2000:
Infelizmente, tenho de reconhecer que, pelo menos a nível da política educativa, o modelo de Estado a que chegámos neste novo ciclo do guterrismo, depois do gonçalvismo, do soarismo, da AD, do Bloco Central e do cavaquismo, tende, cada vez mais a ser uma simples bissectriz de um paralelograma de forças, mas forças essas que os restos de factores nacionais de poder controlam cada vez menos.
Ora um pequeno-médio Estado como o português suicidar-se-á se não perceber que tanto são escassos os recursos financeiros de que dispõe para a formação dos seus intelectuais de alta competição, como também são escassos os meios humanos de alta qualidade que pode formar. Ora, a ausência de sentido de Estado no comando das finanças públicas e a ausência de humanismo na política demográfica levam a que tenhamos indíces de república das bananas terceiromundista quanto ao despesismo, à evasão fiscal e à corrupção, ao mesmo tempo que, pardoxalmente, adoptamos uma política populacional de novos ricos.
Por outras palavras, se, como efeito da democratização do ensino, aumentámos a quantidade dos candidatos ao ensino superior, verificamos, em cada ano que passa, como vai diminuindo o grupo dos que têm alta qualidade. Utilizando uma metáfora desportivo, diremos que está a acontecer ao ensino superior o que ainda agora sucedeu à nossa representação olímpica: em termos quantitativos e de despesas, tivemos o maior número de sempre; em termos de qualidade, um dos piores resultados de sempre (cerca de sete vezes menos que a Grécia). Também no ensino superior se passa algo de semelhante: estatísticas de luxo quanto ao número de alunos, mas assombrosa falta de qualidade, que quase roça a iliteracia quanto aos licenciados médios, com a consequente falta de produtividade em termos de mestrados e doutoramentos, onde continuamos a viver em níveis terceiromundistas.
Por outras palavras, gastamos demais face aos resultados que produzimos, dado que, com menos que fosse melhor, poderíamos atingir objectivos de excelência.
Eis, a meu ver, o primeiro dos vícios da nossa política educativa: a falta de uma ideia de Portugal e a falta de bom senso na gestão dos recursos escassos de que dispõe. Ora, sem metafísica nem senso comum, não é possível a ciência, conforme a inesquecível noção de ciência do nosso Antero de Quental.
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