Aprender a viver.
Mudar de sítio pode ser mudar de horizonte e encontrar, no acaso das estantes de uma livraria, novas janelas escritas que nos baralhem os dados e nos voltem a dar sonho. Primeiro, foi A Coroa, a Cruz e a Espada, de Eduardo Bueno, sobre lei, ordem e corrupção no Brasil Colônia 1548-1558, de Setembro d 2006. Segundo, foi a tradução de Apprendre à Vivre. Traité de philosophie à l'usage des jeunes générations, de Luc Ferry, de Dezembro de 2006.
Sem querer fazer recensões a duas obras que devorei, começo por este último, nascido no mesmo ano que eu, reparando que a boa novidade que ele traz não é a vanguarda das modas que passam de moda, mas a eterna corrente dos estóicos e o humanismo liberdadeiro de Rousseau e Kant, reassumido por Husserl, nessa procura liberalmente individual do transcendente situado que sempre rejeitou os materialismos, do positivista ao marxista, bem como activismos nietzschianos, de cunho fascista, ou fidelíssimas interpretações, com nihil obstat.
Folgo comungar com o filósofo que ficou farto de ser político, nesse ambiente de pós-Maio 68 que não precisa de revisionismo para se manter na linha do humanismo de sempre. Porque o homem é o único animal que sabe que vai morrer, porque a democracia é mesmo o único regime que favorece o aparecimento de elites de homens livres, porque importa descobrir, mais do que conceitos, importa o exercício da sabedoria, porque há que compreender antes e criticar, superando as algemas da nostalgia passadista e o futurismo sem presente.
Embora a palavra saudade nunca apareça, também eu considero que a razão inteira não pode naufragar na fé e ainda subscrevo que a inteligência é superior à confiança, mas com humildade, sem a soberba do vanguardista e reconhecendo os sinais dos judeus e a sophia dos gregos, rejeitando que a filosofia seja serva da religião e optando por pensar por mim mesmo e não apenas por meio do outro, onde há mais disciplina do que ciência e mais pirâmides conceituais do que criatividade.
De Bueno, falarei no próximo postal.
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