a Sobre o tempo que passa: Depois da vindima e das uvas pisadas, saiu aguapé prás castanhas por provar

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

23.10.09

Depois da vindima e das uvas pisadas, saiu aguapé prás castanhas por provar


Ainda ontem, a quente, mas sem castanhas, enquanto o Benfica marcava aqueles golaços, foi-se sabendo a lista dos escolhidos de Sócrates e pediram-me um comentário. A nova equipa velha tem alguma gente minha amiga e companheira de geração em quem confio, até antigos alunos, mas é minha adversária na opção política global, embora muitos comungam de valores essenciais que perfilho. Como Portugal tem necessidade que eles não falhem, tenho algumas expectativas, mas pouca fé. Até porque votei claramente na ruptura face a essa opção socrática


Quando o Benfica marcava o primeiro golo, anunciava-se governo novo, com as velhas aduelas do núcleo duro socrático cedendo ao dinamismo da democracia de opinião, pelo afastamento daquelas ministerialidades que mais tinham sido malhadas pelas forças vivas sectoriais, à excepção da derrota do grupo de pressão do Conselho de Reitores das universidades, da inevitável surpresa dos militares e do potencial milagre da pacificação da justiça, com o ex-ministro guterrista da reforma do Estado.


Por outras palavras, as vozes comunitárias chegaram ao Largo do Rato, que logo respondeu com o reforço do feminino e o destaque para pessoas tituladas nas áreas humanísticas da literatura, filosofia e música e aposta de doutorados em gestão na agricultura e no nó górdio dos grandes projectos. Porque tem de acabar a era da “imagem, sondagem e sacanagem”, com mais sociedade em autonomia e mais sadia institucionalização dos conflitos.


Por outras palavras, Sócrates II espera que as corporações dos contestários sociais lhe dêem um tempo de expectativa, enquanto estas devem receber boa fé, sem propaganda nem manha. Isto é, vamos viver um interregno, para o urgente armistício orçamental e para o próximo regresso da alta política, com o PSD a restaurar-se e Cavaco Silva a repensar-se, recuperando a plenitude da confiança pública.


Porque o PSD não pode continuar mero repetidor dos gritos reivindicativos da sociedade, da comunicação social e das minas e armadilhas de algumas parangonas judiciárias. Logo, dada a inelasticidade ideologista do PCP e do BE, o PSD tanto não pode ser mera voz tribunícia de “clusters” oposicionistas, função típica do CDS, como tentar-se pelo bloco central de interesses de um rotativismo que, por vezes, se confundiu com a nostalgia do cavaquismo sem Cavaco.