a Sobre o tempo que passa: Bom dia, meus irmãos e meus amigos!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

1.3.10

Bom dia, meus irmãos e meus amigos!


Bom dia, meus irmãos e meus amigos. Me acordo, me recordo, quando, diante da barra do Tejo, há breves sinais de manhã serena, embora os barcos da Trafaria ainda não possam atracar no cais de Belém, que, ontem, os pontões foram danificados pela tempestade.

O azul da bonança e o ar lavado do dia que renasce podem ajudar-me a esquecer os longos dias de cinzento que misturaram vida, doença e morte. Que novos sinais me tragam a força da terra que chega dos céus...

Não passo de mero intermediário, de onde vim, para onde vou, e, de muito pensar o sentimento, para sentir o pensamento, não consigo religar-me, ascendendo, entre o simbólico e o diabólico de que sou consequência. Continuo sem saber se tudo é Deus, ou se Deus está em todas as coisas, independentemente do nome que vamos dando ao mais além...

Talvez seja parte desse Deus desconhecido, por vezes com um plural concílio de outros tantos deuses, símbolos, mitos e ritos, com o habitual cortejo de ortodoxias que martelam heréticos e as inevitáveis seitas que praticam os colectivismos morais que querem passar da seita ao catecismo, do pacifismo subversivo à literatura de justificação da guerra justa...

Prefiro continuar a estudar humildemente as velhas, mas não antiquadas, coisas divinas e humanas, através dos muitos exemplos sagrados e profanos que se encontram em compêndios, enciclopédias, vulgatas, provérbios e poemas...

Há muitos livros desse grande livro da natureza, lido e escrito pelo microcosmos que é o centro do mundo, no seu perpétuo voo para a perfeição, que é procurar imitar o macrocosmos, em qualquer lugar, em qualquer tempo, sempre que humildemente acedemos, pelo ver, ouvir, ler e escrever a raiz do mais além...

(na imagem: parte de uma tela da Ana, a segunda que edito, com o titulo de Ancoradouro, vinda de Timor... a primeira, aqui)