a Sobre o tempo que passa: Contaminações magistrais, passos perdidos e vitalismos de Saulo

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

3.3.10

Contaminações magistrais, passos perdidos e vitalismos de Saulo


Esse órgão político por excelência que é o CS da magistratura do MP fez assembleia magna, misturado com eleitos de nomeação política, num órgão essencialmente político e clama trombetas contra a contaminação política, emitindo um comunicado político, onde dolosamente finge que o corporativismo é técnico, mas prefere usar, para o resto do mundo, o impreciso do conceito indeterminado e da cláusula geral, quase como quem pratica a proibida analogia em matéria penal. Aliás, estes aconselhados magistrados apenas são a voz que pronuncia as palavras da lei e estão politicamente enclausurados, dado que não podem dizer do direito, do qual não são fonte. A esmagadora maioria do direito posto na cidade vem apenas da torneira legiferante da tal contaminação política, que também nos paga o vencimento, depois de cobrada a comissão por despesas de representação.

Entretanto, Sócrates voa para o Maputo, com Alegre, mas sem Nobre. E uma lacónica ministerialidade fica a portar a voz do chefe contra os blasfemos que atacam pessoalmente a pessoa do respectivo senhor (que lhes tirem a língua pelo pescoço, como no Livro V das Ordenações). Cavaco aproveita para gerir o silêncio e ver o Paulo contra o Pedro, com o antigo Saulo a não usar a picareta retórica do entrar a matar. Invoca o magister dixit de há vinte anos, manda que o outro repare no texto, mas parece esquecer que Pedro não é alienígena convertido, dado que esteve lá, com os fundadores da religião secular laranja, sem passar pelas negações vitais de outra estrada de Damasco...

A ecclesia em causa, a que, na cor e nas setas, mistura assistencialismo da providência estadual com o valorativo quase DCI, a que alguns dão nome congreganista de reaccionário, está faccionada. Tem um velho e jota apóstolo que parece menos estadualista e menos hipócrita, retomando os catecúmenos, bem como dois heterónimos. Um branco, outro, sincero adesivo que, sem virar casaca, parece inscrever-se na continuidade, dita ruptura, do permanecente da facção dominante. Pedro, por seu lado, ensaia a pose de mudar para voltar à Idade de Ouro da regeneração, mas sem adequada via iniciática. Um gasta-se pelo mau uso do abuso verbal e dedo em riste. Outro, o militante transmontano suave, não quer usar o estrondo da nota-pé-de-página que traz no argumentário. O resultado não o sei medir, porque não sou propriamente um espelho dos laranjas, em que não me lembro de ter votado...