a Sobre o tempo que passa: Esprit de finesse, precisa-se!

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

11.3.10

Esprit de finesse, precisa-se!


Presidente falou. Um reflexão de direito constitucional de experiência feita, ao bom estilo de um oficial de dia, e de muitas comparações protocolares face aos respectivos antecessores. Mas tudo o que disse era aquilo que se esperava que ele dissesse. Não houve anúncios de golpe de estado constitucional, como clamavam os chamados presidencialistas do revisionismo constitucionaleiro.

A mais arriscada afirmação: o PR sabe o que os portugueses querem. Trata-se de questão teológica, de quem não tem "postestas", mas mais complexa "auctoritas"). A lição de moral política mais séria: o carácter dos homens é duradouro, os cargos políticos transitórios. A honra, a honra. Espero que esta finalmente se case com a inteligência.

A rasteira em que ia caindo, mas não caiu: distanciar-se da afirmação de um dos candidatos a líder do PSD sobre a dissolução da AR. A única coisa que o irritou: a questão dos pastéis de Lima e Zé Manel Fernandes, com PS pelos meandros. Que teve direito à rispidez: "uma total invenção". Porque há coisas que se explicam uma vez e não se voltam mais a dizer.

Sobre as relações com José Sócrates: 150 reuniões de trabalho que "não se medem pela temperatura". E nunca tiveram fugas de informação. Não foram quentes nem resfriadas. Até porque nunca vetou nenhum diploma do governo, ao contrário de anteriores presidentes. Também parece que ainda não está esclarecido sobre o projecto de compra da TVI pela PT. Compras dessas têm que ser tanto do conhecimento do PM como da própria opinião pública. O parlamento é que vai esclarecer...

Pinto Monteiro: ele só informa o PR naquilo que entende informá-lo. A nomeação e a exoneração dele depende sempre de proposta do governo. E o PR não o pode avaliar publicamente.

Quem fiscaliza o governo é o parlamento. É este que pode decretar que há crise política. O PR não pode substituir-se à oposição. Os processos têm que fazer o seu caminho. Ninguém está acima da lei. E ele está acima da vida partidária. Mas a situação está grave.

Transcrevi em oito pedaços o que os meus ouvidos quiseram ouvir das mensagens do presidente. Foi cartesiano demais, em análise e síntese, com o tradicional espírito geométrico. Faltou-lhe Pascal e "esprit de finesse". Nunca poderia ser brasa, porque nada tem de além. Ele não acredita que a política tenha metapolítica. Separa a física da metafísica....

Cavaco nunca foi do partido da criatividade, isto é, considerando ciência apenas como aquilo que pode medir-se, reduz as potências da alma à razão e à vontade, temendo a imaginação. Por mim, face à alteração anormal das circunstâncias, deveria haver palavras de excepção, para que se mobilizasse a esperança libertadora de uma maioria de desesperados...

Meia dúzia de minutos de Alexandre Soares Santos, logo a seguir, foram palavras assentes em obras. Como seriam as de Belmiro. Gosto destas derivas liberais que não são neoconservadoras. Que os políticos ponham os empresários que o são, em contrato com os sindicatos. Para que os portugueses regenerem Portugal em esperança. E não tenham que escolher apenas entre Cavaco, Alegre e Nobre. Novo contrato social precisa-se, novo pacto de união que seja superior aos sucessivos pactos de sujeição, ou de governo, nascidos das eleições às pinguinhas, onde as perguntas e as opções estão sistematicamente fechadas pela partidocracia e pelos seus aliados das forças vivas instaladas.