Limite ao poder de substituição. De Teresa Vieira
A participação numa decisão tomada por uma maioria não faz dela uma expedição sem regras. Cada um continua a não poder substituir-se à lei que aprovou sob essa maioria.
O poder não significa falar em nome da lei, apropriando-se dela.
Não devemos tolerar, seja a que nível for, que um indivíduo decida encarnar na lei. A grande força de uma sociedade sã reside em nunca permitir que alguém se faça tirano.
Hoje surge-nos com frequência a figura do porta-voz da lei, como quem detém apenas no timbre, a virtude única dos tempos míticos directa ao sótão de cada um.
Ora, sejamos claros e atentemos que estes porta-vozes são exactamente aqueles que fingindo tudo mudar, nada mudam, quanto mais não seja pelo receio de que a mudança real os desequilibre na postura obstinada com que seguram as ferramentas do domínio, esse mesmo, que não querem ver minimamente retalhado.
Quem os entende bem são os viajantes: aqueles que nunca sequer fizeram qualquer género de turismo na cobardia.
Quem os entende bem são os que a custos altíssimos já inverteram o percurso mostrando vocação para a liberdade.
Um dia, um dia de Domingo ao final de tarde, escutei um desses etéreos estabilizadores das fortes águas dizer-me:
Só a energia gera o fluxo constante que se sintetiza na folha. Se retirarmos luz às plantas elas morrem; o mesmo acontece se lhe deitarmos adubo tóxico. O limite ao poder de substituição, reside no próprio vulcão da natureza humana, a única que é lugar de elevada heterogeneidade, a única que sob diferentes formas, transmite aos filhos a fertilidade de se oporem aos processos que só sobrevivem consociados em vários poderes.
Escutei e aqui reproduzo e mais acrescento: que o primeiro foco de doença anda sempre junto à plantação e pela mão de quem decide encarnar na lei.
Teresa Bracinha Vieira
14.03.10
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