a Sobre o tempo que passa: Limite ao poder de substituição. De Teresa Vieira

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

14.3.10

Limite ao poder de substituição. De Teresa Vieira



A participação numa decisão tomada por uma maioria não faz dela uma expedição sem regras. Cada um continua a não poder substituir-se à lei que aprovou sob essa maioria.

O poder não significa falar em nome da lei, apropriando-se dela.

Não devemos tolerar, seja a que nível for, que um indivíduo decida encarnar na lei. A grande força de uma sociedade sã reside em nunca permitir que alguém se faça tirano.

Hoje surge-nos com frequência a figura do porta-voz da lei, como quem detém apenas no timbre, a virtude única dos tempos míticos directa ao sótão de cada um.

Ora, sejamos claros e atentemos que estes porta-vozes são exactamente aqueles que fingindo tudo mudar, nada mudam, quanto mais não seja pelo receio de que a mudança real os desequilibre na postura obstinada com que seguram as ferramentas do domínio, esse mesmo, que não querem ver minimamente retalhado.

Quem os entende bem são os viajantes: aqueles que nunca sequer fizeram qualquer género de turismo na cobardia.

Quem os entende bem são os que a custos altíssimos já inverteram o percurso mostrando vocação para a liberdade.

Um dia, um dia de Domingo ao final de tarde, escutei um desses etéreos estabilizadores das fortes águas dizer-me:

Só a energia gera o fluxo constante que se sintetiza na folha. Se retirarmos luz às plantas elas morrem; o mesmo acontece se lhe deitarmos adubo tóxico. O limite ao poder de substituição, reside no próprio vulcão da natureza humana, a única que é lugar de elevada heterogeneidade, a única que sob diferentes formas, transmite aos filhos a fertilidade de se oporem aos processos que só sobrevivem consociados em vários poderes.

Escutei e aqui reproduzo e mais acrescento: que o primeiro foco de doença anda sempre junto à plantação e pela mão de quem decide encarnar na lei.

Teresa Bracinha Vieira

14.03.10