a Sobre o tempo que passa: PSD: O espelho da nação. No DN de hoje

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

13.3.10

PSD: O espelho da nação. No DN de hoje



Num partido habituado à governamentalização, quando não há votos nem sondagens favoráveis, tudo se fragmenta em neofeudalismos e arquipelágicos apoios locais (mais de metade dos militantes estão em Braga, Porto e Aveiro).

Pesa, sobretudo, a nostalgia de 1985 e 1995, quando foi pioneiro das maiorias absolutas.

Dói concluir que, nestes últimos quinze anos, foi um verdadeiro cemitério de líderes (sete), com apenas dois anos de governança, mas a charneira de Portas.

Porque a pessoa do actual Presidente da República, ao desertificar o partido, passou a ser um ausente-presente, tão invocado como o próprio fundador, embora o irmão-inimigo, depois da saída de Soares, também tenha de contabilizar seis lideranças, embora esmague com treze anos de governo. Contudo, o PSD nunca abandonou verdadeiramente o poder.

Tem, além do Palácio de Belém, o quase monopólio na Madeira. Manda na maioria das autarquias. Fez ascender Barroso a presidente da comissão de Bruxelas. E é representado, no quarto poder, por dois dos nossos principais “opinion makers”.

Depois do fracasso eleitoral do cavaquismo sem Cavaco, o partido vai a Mafra, mas sem poder retomar o segredo da mobilização vitoriosa que levou Sá Carneiro e Cavaco ao poderio.

Já não pode invocar a trindade de “uma maioria, um governo, um presidente”, porque está condenado a apoiar a recandidatura do seu patriarca vivo.

E também está preso por ser a secção nacional de uma das duas principais multinacionais partidárias da Europa, ao lado do CDS.

Tal como está geneticamente imbricado no situacionismo, sobretudo nos “monstros” das políticas educativa e de saúde e na pesada herança do clientelismo e de outros processos de compra de poder, que enferrujaram as nossas canalizações representativas da partidocracia.