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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

4.3.10

Nesta república onde o rei vai nu, importa um urgente armistício moral!


Todo o homem é uma guerra civil, como dizia Lartéguy, e não é o maniqueísmo que nos pode fazer regenerar, depois de um ano de campanha eleitoral permanente, com o consequente belicismo verbal. Precisamos, urgentemente, de um armistício moral...

No século XIX, o jornal substituiu o púlpito. A partir de meados do século XX, chegou a "folle du logis". Logo, em política, o que aparece é o que é. E já não chega o "marketing" daquela boa propaganda que não parece propaganda, impõe-se uma adequada gestão da percepção, que este regime de assessores não consegue atingir!

Depois do púlpito, do jornal e da televisão, a liberdade atingiu o espaço da "net", tanto na blogosfera e nas redes sociais, como, sobretudo nos "favoritos" que cada um selecciona dos jornais "on line". Este novo povo já tem novas significações partilhadas, diversas da tríade "amália, eusébio, senhora de fátima"...

O momento Sócrates da nossa democracia pode ser um "ponto de não regresso". O mais grave não é apenas a habitual fraude ligeira da mentira, praticada pelos responsáveis políticos, mas a complacência comunitária face a essa má tradição da razão de Estado e do despotismo ministerial...

Pode estar a emergir, no tribunal da opinião pública, uma nova atitude, com uma nova moral social, no sentido de uma maior exigência quanto à conduta dos responsáveis políticos. Não estamos já perante um problema de leis, polícias e tribunais...

Pouco me interessa derrubar Sócrates, como, nos USA, a oposição republicana tentou enredar Clinton por causa de Monica, ou como, no Brasil, caiu Collor de Melo. Porque um renasceu em prestígio e outro acabou, anos depois, absolvido. Bastava que o PS profundo obrigasse Sócrates a arrepender-se e a confessar os erros. Têm genealogia para um acto de grandeza.

O problema está menos no Papa e mais nos mais papistas do que o Papa. Os tais "boys and girls" que entraram na autogestão das asneiras, com aquela impunidade de bastidores que quase nos atirou para certo concentracionarismo doce, onde a cenoura parece mais eficaz do que o chicote, à boa maneira do rotativismo devorista e da sua casta banco-burocrática...

Mas tratou-se de mais um dos nossos normais anormais, onde interessa menos a pressão e mais a eventual cedência à pressão, face a poderes fácticos das chamadas forças vivas, sejam as do estadão, as dos partidos, as da economia e da banca, as eclesiásticas, ou as do futebol...

Chegámos a este tempo febril, onde quanto menos jornalismo de investigação mais sensacionalismo, para que o argumento tenha que ser berrado, quando apenas sucede o mais do mesmo, como no tempo das pressões do soarismo e do cavaquismo, mas sem esquecermos as jogadas do semanário Independente com a sua rede de informadores na maquineta judiciária, policiesca e fiscal...

Entre a corajosa turbulência de Manuel Moura Guedes e a firmeza serena de Pinto Balsemão, apenas pudemos concluir que, nesta república, o rei vai nu. Porque nem tudo o que é lícito é honesto.

O PS profundo é a imagem deste querido Raul, a defender a pena e o jornal dos homens livres, com o povo ao lado!