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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

1.4.10

Em Portugal, o importante não é ser eurocrata, deputado ou ministro, é tê-lo sido!


Hoje pode ser o dia das mentiras, pelo que vale a pena fingir que é a verdade aquilo que na verdade se sente. Depois do pato bravo, eis o contra-almirante. Depois do trolha, o altíssimo comissário. Eis a diferença que vai da rotunda cá da vilória a uma manobra económica das brumas germânicas, porque na Europa a que chegámos, quanto mais problemas de convergência com a moeda única, entre gregos e lusitanos, mais equipamentos de ferro submergível com periscópios bem de fora, em nome da soberania e de governos de esquerda e de direita...

Portugal, enquanto produtor de cortiça, flutua imenso. Sobretudo com a leveza das contrapartidas, mesmo quando santificadas pelas empresas de regime, as que criam um escudo globalmente invisível às grandes forças vivas santificadas...

Mas periscópios não conservam nos discos duros do "off shore" os quadradinhos de papel que registam os créditos e os débitos do senhor ninguém. E por cá a balança da justiça corre o risco de ter roubado a espada à deusa que a sustinha, pondo-a num dos pratos, ao mesmo tempo que tirou a venda dos olhos e cedeu à sedução de um cruzeiro por mares tropicais e de uma casinha modestamente apalaçada, para se gozar a reforma e mangar com a tropa...

As formidáveis máquinas registadoras da geofinança não põem a nu todos os recebimentos, todos os cliques de confirmação dos muitos multibancos sem caixas de ferro, pelo que as somas de um mais um nunca são dois, são sempre abaixo de zero...

Quando, numa democracia, se perde o sentido da palavra, quando é enorme a distância entre aquilo que se proclama e aquilo que se pratica, quando não se vive como se pensa, apenas se pensando como se vai viver, o melhor é aproveitar-se a circunstância e pedir-se a reforma, para, depois, o amigalhaço nos permitir a acumulação, saindo da política activa para o regime da promiscuidade. Em Portugal, o importante não é ser eurocrata, deputado ou ministro, é tê-lo sido!