Sobre o tempo que passa
Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...
30.6.10
29.6.10
Retalhos na vida quotidiana de um impostado (homenagem aos ex-estalinistas lusitanos que ainda mandam)
26.6.10
Viva o velho Belenenses do senhor Vicente, irmão do Matateu
23.6.10
Os rabos, as scutas e os novos formigas cor-de-rosa às pintas de "golden share"
20.6.10
Discurso faccioso e tribal, proferido ontem, por mim próprio, sem heterónimo,em Viseu
18.6.10
O país mais à esquerda da Europa vai continuando a discutir o sexo dos anjos...
17.6.10
O regime da imagem, sondagem e sacanagem (Alegre dixit...)
16.6.10
Ninguém exercita a palavra que o faz viver sem um pedaço de sol que lhe dê alma
14.6.10
No dia de São Fernando António, um que viveu em Durban, lá prós lados da Vuvuzela!
A avestruz ou a "struthio camelus". De Teresa Vieira
Temos de reconhecer a evidência de uma nova classe: a classe da avestruz.
Temos de reconhecer que esta nova classe dominante substitui e desloca a classe burocrática que necessitava dos papéis para neles enterrar a cabeça.
Ora é sabido que a/o avestruz é famoso por esconder sua cabeça na areia, ao primeiro sinal de perigo; donde não sacrifica arvores que se tornariam o papel onde as anteriores classes dominantes enterravam as suas doutas cabeças.
Os grupos de avestruzes têm também a suma característica de enterrar, num ápice, debaixo do chão, todo o crânio, o que envolve o parietal, o temporal, o frontal, o occipital, o esfenóide e o etmóide. E entre estes existem os pares e os impares que enfim, é como dizia o outro: é fazer-lhe as contas.
Mas esta nova classe arroga-se detentora de uma verdadeira alternativa: a alternativa do impasse.
Dentro desta encontramos o poder que chega à conclusão de que se está perante um fenómeno de profundidade e que atinge profundamente as sociedades, mais do que os próprios furos artesianos atingiram o Algarve, e impõe-se a emergência da avestruz, ou seja, nada vejo, nada vi, nada verei e quando for para correr, digam.
De notar que o/a avestruz é uma ave não voadora (atrofiaram-se as asas quando soube a vocação), mas é sim, dotada de umas pernas para que te quero, de fazer inveja a qualquer camelo pardo que não se adapte com facilidade ao escuro.
Contudo, entenda-se que este comportamento do/da avestruz, tem um contra-argumento comum, que assenta na base de que se uma espécie exibisse tal comportamento continuado, o tal da alternativa do impasse, não sobreviveria por muito tempo.
Não sabemos se assim seria pois esta nova classe à qual lhe mirraram as asas, é pródiga em coices, sobretudo quando ameaçada.
Sabe-se, inclusive que no entretanto dos corredores subterrâneos por onde habitam os cérebros desta nova classe, também se abrem inquéritos, e visam estes, a ética do aparelho primordial que descodificou a postura do nada tenho conhecimento e quem disser que eu tenho, eu nego.
Na verdade, os inquéritos também visam obter sondagens em profundidade e diâmetro, e para esse efeito, criou-se já o doutoramento em vedores que sugerem a colocação de bombas submersas, que escavam engenhosamente o género de furo que deve ser feito, e aproveita-se a bibliografia para, no pós-doutoramento, se sugerir a rega automática da situação grave que se atravessa ou de outras que virão.
A importância desta classe contemporânea - sublinhe-se - é tão profunda que já se instituiu a estrutiocultura, ou seja, a criação de avestruzes em cativeiro.
Aqui chegados torna-se necessário fazer jus à produtividade desta classe. Assim, ele é carne, ele é couro, ele é plumas, ele é ovos, ele é artesanato, ele é património não sei das quantas e como tal devidamente protegido, e, finalmente ele é reinterpretado consoante a teoria objectiva, subjectiva ou eclética, tendo em conta a corrente dos comentadores das urbes.
Assim, a classe da avestruz ou do struthio camelus (seu nome cientifico) impõe a autoridade, o prestigio espontãneo, o impacto estonteante da ideologia do ai que não posso ler já que não tenho os óculos comigo e quanto ao pensar a cefaleia impede, de tal modo que há quem a siga nas urnas por total identificação.
Contudo, esta classe, é um espírito aberto e especializadíssimo em citar as culpas alheias e a retirar para si as mais-valias das influências do obscurantismo que, afinal, persegue este génio que só se organiza e comanda, enterrando as boas performances, para que nunca se diga que delas se tirou proveito e la noblesse etc que a falsa modéstia também é um buraco lógico.
Mas a classe da/do avestruz promete-nos a tal alternativa do impasse.
Eis uma proposta.
M. Teresa B. Vieira
13.06.10
Sec. XXI
11.6.10
Os sermões das missas do estadão nos dias de teatrocracia e venerandas figuras
10.6.10
Portugal, porque sei que não vou por aí!
9.6.10
Por este poema e por muito mais. Por Teresa Vieira
Por este poema e por muito mais
Mas isto é nada pra ganhar partido
Dos homens gastos por bandeiras gastas,
Vigilantes de livros e de castas,
Em defesa do mundo dividido.
António Manuel Couto Viana estava sempre desejoso de se reformar da reforma. O seu quarto, na Casa do Artista serviu bem o «crochet» da palavra.
Discretamente demais a Imprensa Nacional/Casa da Moeda editou dois volumes contendo a obra poética de António Manuel Couto Viana.
Por todos os poemas e restante trabalho de vida, que se leia o seu “Ainda não”.
M. Teresa B. Vieira
9.06.10
Couto Viana e Miguel Torga, Macau, 1987. Imagem picada aqui.