a Sobre o tempo que passa: Nove farpas contra o despotismo e a servidão voluntária. Dedicado a S.

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

18.1.11

Nove farpas contra o despotismo e a servidão voluntária. Dedicado a S.



1
Para Jean Bodin, importa mais a "forme de gouverner" que "l'estat d'une république". Porque, dentro de um mesmo "estat d’une république" (v.g., monarquia, aristocracia ou forma popular), pode haver várias "formes de gouverner". Interessa-nos mais determinar o "status in statu", o "establishment", como dizia Almeida Garrett.


2
A questão do regime em Portugal é tão simples como o elenco de Bodin: a monarquia pode ser tirânica, senhorial ou justa; a aristocracia pode ter apoio popular; a forma popular tanto pode ter um governo efectivamente popular, como governos aristocráticos ou reais. Já não há um Salgueiro Maia que, definindo a coisa, acabe mesmo com ela.


3
Tal como Bodin, também considero república como algo que não pode confundir-se com um dos seus "estats", seja monarquia seja esta coisa a que chamam a república. Os nomes não podem confundir-se com a coisa que é mal nomeada.


4
O Bodin é lá do século XVI, o dos Seis livros da república que inventou a soberania. Era do partido dos "politiques" quando a França se desfazia em guerra religiosa, entre huguenotes e Santa Liga. Foi desse grupo que nasceu a conversão do chefe dos protestantes ao catolicismo. E Paris valeu bem uma boa missa. 


5
A teoria da soberania foi apenas instrumental, para livrar a França do Papa e do Imperador. Nunca Bodin foi soberanista no plano interno. Isso não era do Renascimento, veio apenas com o posterior barroco, absolutista, mas que nunca foi ao fundo, nem com Robespierre...Pode haver absolutismo dos monarcas e até de todos.


6
Honram-me alguns amigos. Com Coragem, em maiúscula. Os vermes temem. Como dizia Eric Weil, o repressor só reprime porque tem medo da revolta dos reprimidos. Não digo a quem me refiro, que os moscas, formigas e bufos estão atentos. Mas ela sabe. É bom poder viver como se pensa. E, sobretudo, não torcer.


7
O "status" que emiti antes emiti tem de ir em linguagem oblíqua. Não por mim, mas por quem poderia ainda ser mais prejudicado se eu não falasse a linguagem de resistência aos antigos regimes. Porque, em muitos segmentos, eles já voltaram, até sem pudor.


8
Para concretizar: antigos regimes são todos os regimes que assentam no fanatismo, na ignorância e na tirania. Incluindo os despotismos democráticos..


9
Os principais culpados de tais antigos regimes tanto são os que sobem como a vontade de servidão dos que os fazem subir.