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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

7.11.04

 Enciclopédia política. Os furicões do sistema



Recebi de meu amigo MacDonnel, já verdadeiramente nacionalizado e quase nosso, dadas as desventuras de sua Escócia, um contributo delirante, mas feito em estado de poder soprar no balão e continuar a conduzir, o qual integralmente reproduzo, sem cortes nem comentários:

Os furicões são tempestades políticas severas que ganham forma em Lisboa, não sem que, antes, alberto joão tenha denunciado os cubanos, após pinto da costa, sem castelo, ameaçar os mouros de alverca e da lista dos apoiantes de joãozinho soares, com o guarda abel e a vitória do nandinho gomes, à esquerda, e do lobito xavier, à direita. Recolhem fundos, calor e energia através do contacto das garras aduncas do devorismo com as águas mornas do sistema, numa terra de ninguém onde circulam agências de comunicação, jogadores de sueca, sacristias, lojas e jantaradas de amigos de colégio, ou de colegas de curso, com fortes ilibações que impedem a posterior condução dos ferrari e dos jaguar da agência amostra, lá de marco de canavezes, onde eles são todos vermelhos e copinhos de leite. E a evaporação da volátil classe política aumenta o seu poder, especialmente quando a mãezinha vive connosco. Portanto, em matéria de portas, convém desde já mantê-las cerradas e, se possível, dar uma telefonadela para o sanchiz do marketing político, ou para a secção de segurança interna da agência cambial dos negócios e trocos da mão morta.



Os furicões giram sempre num sentido contrário aos ponteiro do relógio, de forma revolucionária ou reaccionária, sempre em torno de um "olho", que costuma revestir formas tradicionais que aqui não reproduzimos, por não sermos canais generalistas de grande "share", nem canal codificado da tv da fonte do cabo. Têm ventos de, pelo menos, três remodelações por ano e entram em efervescência, especialmente, em tempo de escolhas de listas para a direcção do partido ou para deputados. Quando chegam a belém, depois de muita chuva e de inúmeros ventos fortes, já tiveram ondas furiosas que danificaram ministros, deputados e autarcas. O que irrita particularmente o presidente, que logo chama o procurador, que logo despede a assessora de imprensa, que logo esquece, que logo chora lágrima de jacaré, diante dos manifestantes de canas de senhorim, que logo chama o dono da avaliação e o manda teorizar o foreign affairs, que logo despede, que logo saneia a tia do primo que era avô do padre da freguesia alentejana, onde o ministro jaquim, antes de ser da empresa que dá anúncios do salazarismo, metia cunha ao silva que andou na escola com o rico daquele marcelista, o do tal projecto de licenciamento urbanístico que, no gabinete da catarina, onde estava o padre que vai ao programa dos bissexuais, a tia que era ministra, e aquela que foi à missa ortodoxa com o nunocas que, na língua má da noite, no bar dos gémeos, perto do bar dos moinhos, deu um tiro nas costas no fim da coisa, que o coiso punha na teta da cabra que dava flores.


Mas o que eu acho engraçado é a historia dos nomes dos furicões. Até 1989 todos os furicões tinham nome de comunistas e de maoístas(e sempre nomes curtos e fáceis de pronunciar para facilitar na comunicação), mas parece que eles se passaram todos para os partidos do centrão e conseguiram que nomes de todos os políticos fossem listados alternadamente. Aqui estão os nomes para os furicões de 2005: policarpo, veiga, soutomoira, guedes, restolho, màrinho, roubada, sacadura. Se quiser saber mais sobre isto, vá à bruxa do arquivo. O jeito é esperar pra ver e torcer pra que ele chegue sem problemas.



Furicão nao é um fenomeno previsível, nunca se sabe ao certo a velocidade nem o partido exacto que ele atacará, desde que o independente passou para o governo e os ministros de cavaco já não telefonam para o dito do intervalo que prime-minister lhes dava para fumarem um cigarrinho. Nem se encontram com ele no cemitério dos prazeres, passando-lhes papelada dos serviços. Nem o cujo já tem informadores nas repartições de finanças, nos cor de rosa das necessidades, no contencioso dos bancos, na pia do opus, ou nas secretarias judiciais. Ele agora vive perto do bar, fala com o donald e o patinhas e gosta de jogar à batalha naval por causa dos canhões dos porta-aviões e dos quadradinhos onde se afina o tiro, depois de uma ida à feira de carcavelos, perto de sheraton.


Contudo, o furicão tanto pode perder força no meio caminho como também ganhar e mudar a direcção de repente, dado que, depois de Barroso, se anuncia a candidatura de D. Policarpo ao trono de Pedro, com um programa revolucionário que inclui um Vaticano III, que permitirá a casados serem ordenados e feitos bispos, pelo que Roberto Carneiro já se enfileira. O jeito é acompanhar as previsões a cada hora, lendo o Expresso, assistindo à SIC-Notícias e consultando o Abrupto e o Causa Nossa, antes de passarem a peças de teatro ou a noites da má língua, transmitidas em directo, da FLAD, da FO, da FCG ou da Casa-Museu João Soares, em Campo de Ourique. As pessoas cujo emprego depende de um partido, perante a ameaça deixam os seus gabinetes e estocam tachos e colocações na função pública, antes da reforma de Bagão surtir efeito.


As televisões começam a berrar e eu fico aqui pensando até que ponto isso é bom ou ruim. Mudo para o Canal História, porque estou farto de tipos que pensam que são ursos só porque bareiam no bairro alto, para meterem cunha ao prémio da livraria de forte da casa. A gente sempre vê inundações de anteriores crises políticas, com pessoas desabrigadas e até mudanças de partido em consequência das enchentes. E eu me pergunto se eles fizessem esses alertas alarmantes se isto não seria evitado.