Mare Nostrum... Mar é deles
A grande e justa parangona do cada vez menos espesso Expresso da nossa memória adolescente é que o Tratado assinado na semana passada, em Roma, atribui a competência exclusiva de exploração e aproveitamento, conservação e gestão dos recursos biológicos do mar à União Europeia. Ou seja, a Constituição Europeia retira a Portugal a soberania sobre a sua Zona Económica Exclusiva (ZEE). «É incrível como o Governo português deixou passar esta medida sem qualquer contestação. Em Bruxelas ficaram muito surpreendidos por Portugal não se ter oposto», comenta João Salgueiro.
A nossa página procurou imediatamente reacções à descoberta desse achado jornalístico. O Presidente da República, ouvido sobre a matéria, logo proclamou, através do seu assessor diplomático: Não vamos dramatizar. Quem sabe o que está no Tratado quando o vai negociar? Dez por cento? E é uma negociação ilegal por isso? Não, é uma passeata a Bruxelas, uma diversão. Mais sublinhou que ninguém sabe todos os pormenores sobre documentos como o Tratado Constitucional, que têm de ser consultados com regularidade numa permanente procura do conhecimento.
Já o ministro da "defense" e governador regional dos recursos marítimos europeus da praia ocidental, Monsieur Paulo Doors, olhando o Bugio da sua sala de St. Julians por cima da Beirre, classificou o tratado como uma parceria estratégica entre o sector da Defesa e a indústria de enlatados da Califórnia. Realçou a importância do mar para as pátrias europeias, assinalando que quando ele assumiu a pasta, sem ter sido previamente avisado pelo Primeiro Ministro, a Zona Económica Exclusiva portuguesa era 18 vezes maior do que a do território nacional, pelo que seria uma tolice querer defendê-la com oposições internas tão aduncas, pelo que a Europa tem muito a ganhar com essa fonte de recursos e a última fronteira a explorar para as próximas gerações. Daí destacar que a Marinha, que ele adora, necessita de meios para assegurar a preservação dos recursos existentes no mar e para o combate aos ilícitos marítimos, designadamente o tráfico de droga ou de armas e os ilícitos aduaneiros, coisa que agora não será mais objecto de controvérsia, dado que Bruxelas e o Presidente Bush se aprontarão a subsidiar-nos: Após quase 30 anos de desinvestimento e várias promessas dos sucessivos governos, a Marinha começa a ser renovada para defender o mar europeu e contribuir para a indústria transatlântica, acrescentou o ministro que logo anunciou ter removido o último director-geral não portista que restava.
Entretanto, Durão Barroso, ouvido sobre o tema, observou: Mar salgado, por te cruzarmos, quantas mães choraram, quantas noivas ficaram por casar, para que fosses nosso!. Ao jornal londrino da Fundação Francis Drake, o mesmo Joseph Berroso, de pala no olho, acrescentou: Salty sea, for you to cross, how many mothers had cried, how many fiancés had been for marrying, so that you were ours!. Já a um semanário democrata-cristão italiano, Giuseppe Birroso, comentando o caso Buttiglione, acrescentou: Il mare salato, affinchè attraversi, quanti madri cried, quanti fiancés era stato per sposarsi, di modo che eravate il nostro!. Por sua vez, numa revista do Texas, dedicada ao comércio de portas, pode ler-se numa reportagem sobre a presença de Cinha no rancho das celebridades, que the Bush's friends, Mr. Borroso, in Europe, terá dito: The salato sea, affinchè crosses, how many mothers cried, how many fiancés had been in order to marry itself, of way that you were ours! Desta maneira, podemos ler no portal do governo, o seguinte relato: Mr. Rumsfeld said that Mister Burroso said him that o mar do salato, o affinchè cruza-se, quantas mães gritaram, quantos fiancés tinham sido a fim se casar próprio, da maneira isso que você era nosso! A central de comunicações do governo, em nota de pé de página logo afiança que os eventuais erros de transmissão destes dados resultam dos serviços de tradução da "Google" e da secção "EH! Governemente" do Palácio de São Vento da Portas Abertas, no parque natural do Gerês, com a assessoria da Casa-Museu Fernando Clara Pessoa Ferreira Alves e a leitura paleográfica do ministro do turismo em trânsito para o Algarve, Mister Telmo que Corria. Ao que parece, Santana Lopes continua em silêncio, depois do ultimato que lhe lançou o ministro das feitorias económicas, Álvaro Barreto... Não rima, mas é verdade!
Perante os enormes desafios postos à resistência nacional, a nossa página foi inundada por inúmeros "mails" de sucessivas personalidades e instituições. A primeira a tomar posição foi a Fundação Patriótica do Extremo Ocidental, com sede no Cabo da Roca, tendo o respectivo presidente, habitual monopolizador do patriotismo pluricontinental e plurissecular, proclamado: A alteração do conceito e da realidade das fronteiras geográficas, vem acompanhada da desmobilização das fronteiras económicas, que cedem a um mundialismo liberalizante, do qual dizia recentemente Alan Greenspan: não obstante o fluxo e refluxo dos governos com convicções diferentes, a paisagem da economia mundial não diminui o movimento de aproximação das sociedades dos mercados livres. É verdade na Europa do leste, na América Latina e na Ásia. Mesmo numerosas economias socialistas da África abraçam o capitalismo dos mercados livres. A actual crise na Ásia Oriental poderia acelerar esta tendência à medida que as lições duramente aprendidas... conduzirão a importantes reformas. Esta evolução multissecular está inscrita na natureza do homem. (American Society of Newspaper Editors, Washington D.C., 2 de Abril de 1998).
Mais comoventes foram as palavras de um velho amigo, para quem importaria novamente cantar: Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal. Sabe, no fundo eu sou um sentimental. Todos nós herdamos no sangue lusitano uma boa dose de lirismo...(além da sífilis, é claro). Mesmo quando as minhas mãos estão ocupadas em torturar, esganar, trucidar, meu coração fecha os olhos e sinceramente chora.... Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal, ainda vai tornar-se um imenso Portugal.
Guitarras e sanfonas, jasmins, coqueiros, fontes, sardinhas, mandioca num suave azulejo e o rio Amazonas que corre Trás-os-Montes e numa pororoca deságua no Tejo. Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal. Ainda vai tornar-se um imenso Portugal. Ai, esta terra ainda vai cumprir seu ideal. Ainda vai tornar-se um império colonial. Sei que há léguas a nos separar. Tanto mar, tanto mar. Sei também quanto é preciso, pá, navegar, navegar. Lá faz primavera, pá, cá estou doente, manda urgentemente algum cheirinho de alecrim. Já murcharam tua festa, pá, mas certamente esqueceram uma semente nalgum canto do jardim. Sei que há léguas a nos separar. Tanto mar, tanto mar. Sei também quanto é preciso, pá, navegar, navegar. Canta a primavera, pá, cá estou carente. Manda novamente algum cheirinho de alecrim...
Qualquer semelhança entre o texto emitido e as actuais circunstâncias não é apenas coincidência. A história constitui, na verdade, o género literário mais próximo da ficção. E quando se repete tanto redunda em tragédia como na presente comédia.
<< Home