a Sobre o tempo que passa: <span style="font-family:georgia;color:red;">Lá virá nau catrineta</span>

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

11.11.04

Lá virá nau catrineta



Lá vem a nau Catrineta
Que tem muito que contar!
Ouvide, agora, senhores,
Uma história de pasmar.
Na próxima terça-feira, os ministros do governo de Portugal vão comemorar o dia nacional do mar. Munidos de escafandros, bóias e periscópios, os ditos deverão deslocar-se de lancha até ao navio-escola "Sagres", que estará fundeado ao largo da costa, algures, perto de Lisboa, em local ainda secreto, não vão os tubarões dar uma dentada no casco, apesar de os aviões que Sanches vai comprar contra os incêndios estarem em vigilância e de os telemóveis comprados por Dias Loureiro para as forças de segurança estarem em alerta, com muitas bandeiras do Sporting SAD a agitarem-se numa bancada onde Ângelo Correia se ri a bandeiras despregadas. Et pour cause...

Passava mais de ano e dia
Que iam na volta do mar
Já não tinham que comer,
Já não tinham que manjar.
Deitaram sola de molho
Para o outro dia jantar;
Mas a sola era tão rija
Que a não puderam tragar.

Santana, vestido com um escafandro comprado na loja de Zé Castelo Branco, de Nova Iorque, mostrará a compostura vitoriosa que trouxe de Barcelos. O ministro das feitorias levará taco de golfe. O dos estrangeiros vestir-se-à à Yasser Arafat, pedindo desculpa aos jornalistas, dado ter pensado que se ia comemorar o dia nacional da desertificação. O do turismo irá distribuindo galos de Barcelos em formato A4, onde reivindicará a mudança do ministério para a Quinta da Marinha, aproveitando a onda.

Deitaram sorte à ventura

Qual se havia de matar;
Logo foi cair a sorte
No capitão general.
- Sobe, sobe, marujinho,
Àquele mastro real,
Vê se vês terras de Espanha,
As praias de Portugal.
"Não vejo terras de Espanha,
Nem praias de Portugal;
Vejo sete espadas nuas
Que estão para te matar".





A ministra da cultura, mais uma vez, ninguém a verá, dado que continua a fazer restauros na afundação. Portas, em frenesim, emergirá garboso e inesperado, da escuridão das águas, mostrando a agressividade do periscópio do novo submarino que anda a experimentar, e declarará: "não há peixe de águas profundas que me amedronte, nossa senhora dos naufrágios está comigo".

- Acima, acima gajeiro,
Acima ao tope real!
Olha se enxergas Espanha,
Areias de Portugal
"Alvíssaras, capitão,
Meu capitão general!
Já vejo terra de Espanha,
Areias de Portugal.
Mais enxergo três meninas
Debaixo de um laranjal:
Uma sentada a coser,
Outra na roca a fiar,
A mais formosa de todas
Está no meio a chorar".



Para espanto de todos, eis que, entretanto, chegará um convidado especial, o presidente Sampaio, regressado de mais um périplo europeu. Virá de balão e irá pousando suavemente a bambordo do navio. Anaviando, logo declarará: "eis-me aqui, depois de sair dali, eis-me chegando nesta formosa réplica da Passarola, que, se cultivarmos os castiço, na Europa seremos a cabeça".

-Todas três são minhas filhas,
Oh! quem mas dera abraçar!
A mais formosa de todas
Contigo a hei-de casar.
"A vossa filha não quero,
Que vos custou a criar".
- Dar-te-ei tanto dinheiro,
Que o não possas contar.
"Não quero o vosso dinheiro,
pois vos custou a ganhar!
- Dou-te o meu cavalo branco,
Que nunca houve outro igual.
"Guardai o vosso cavalo,
Que vos custou a ensinar".
-Dar-te-ei a nau Catrineta
Para nela navegar.

"Não quero a nau Catrineta
Que a não sei governar".
- Que queres tu, meu gajeiro,
Que alvíssaras te hei-de dar?
"Capitão, quero a tua alma
Para comigo a levar".
- Renego de ti, demônio,
Que me estavas a atentar!
A minha alma é só de Deus,
O corpo dou eu ao mar.
Tomou-o um anjo nos braços,
Não o deixou afogar.
Deu um estouro o demônio,
Acalmaram vento e mar;
E à noite a nau Catrineta
(cena cortada.....................
no .......................................
falharam os motorola.......)