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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

9.11.04

De Althusser a Valéry Giscard d'Estaing, a unicidade continua


Um meu antigo professor, a quem reconheço brilhantismo, a quem guardo reverencial respeito, mas de que não conservo saudades, como as que mantenho para com outros antigos comunistas, seguidores da imaginação, como o era Aníbal de Almeida, esse tal meu antigo professor, porque sempre teve vocação para bispal definidor da linha justa da esquerda, primeiro da que foi comunista e althusseriana e, mais recentemente, da que se fica pelos "soft" brandos costumes do socialismo europeísta, mas sempre com a mesma metodologia dogmatista, dado que no imanente não há "delete", dita hoje a seguinte sentença, "ex cathedra":


"Os nacionalistas de direita e de esquerda, bem como os 'soberanistas' em geral, não terão dificuldades em votar convictamente contra o referendo que vier a ter lugar sobre o novo tratado, pela simples razão de que este se assume expressamente como uma Constituição sobreposta às constituições nacionais...Mas já surpreende que uma pessoa bem informada como António Barreto... ....".





Não entrarei nos pormenores dialécticos emitidos pelo futuro autor de mais um notável comentário do comentário da glosa do Texto. Apenas registo como, suavemente, dita o seguinte: os nacionalistas não são pessoas bem informadas. Por outras palavras, muito subliminarmente, semeia o quem não é por mim é desinformado, desinteligente e decontextuado. Só a minha crença é boa, inteligente e está com o Texto. Decretemos, decretinemos, glosemos, "textum nostrum qui est in paraiso..."

Apenas observo como ainda continua a pensar que as coisas são como ele verbalmente as nomeia, criando um hobbesiano mundo de abstracções, mas que pode não ser o mundo onde pomos os pés, nem o transcendente para onde lançamos os sonhos. Nunca o Leviatã das pretensas boas intenções do infernal geometrismo nos deu o céu. Porque sempre teve uma alma artificial.

Apenas acrescento como também decreta a existência de uma identificação entre nacionalistas e soberanistas. Como se Rousseau pudesse ser o Thomas Hobbes. Ou como Soljenitsine pudesse ser Lenine. Por isso, rir-me-ei, quando me for dado vê-lo lado a lado com Paulo Portas, no mesmo tempo de antena, já não social-fascista, mas unindo os não-nacionalistas de esquerda e de direita...

E tão-só concluo que, sendo nacionalista, não sou soberanista e que não preciso da respectiva benção para ser europeísta. Antes de ele se converter a tal, já aquelas correntes onde me integrava saudavam Walesa ou Havel. Porque nem todos os europeístas subscrevem tal via de unicidade constitucional para a constituição europeia. Porque nem todo o europeísmo persegue os nacionalismos. Pelo menos desde Mazzini. Ou dos pluralistas criadores da ideia de complexidade, ou de unidade na diversidade...



Que saudades eu tenho de Jean Monnet, que era um sujeito que nunca andou atrás de Estaline, Brejenev e Álvaro Cunhal. Que solidariedades eu mantenho com o libertacionismo polaco, báltico, checo, eslovaco, esloveno e húngaro.


Mesmo que na primitiva versão da nossa constituição um jovem candidato a papa do comunismo tenha retirado, do artigo primeiro, o necessário conceito de "comunidade", em nome da fidelidade à luta de classes, e tenha procurado expurgar, do restante texto, palavras como "nação" e "nacional".