De Althusser a Valéry Giscard d'Estaing, a unicidade continua
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Um meu antigo professor, a quem reconheço brilhantismo, a quem guardo reverencial respeito, mas de que não conservo saudades, como as que mantenho para com outros antigos comunistas, seguidores da imaginação, como o era Aníbal de Almeida, esse tal meu antigo professor, porque sempre teve vocação para bispal definidor da linha justa da esquerda, primeiro da que foi comunista e althusseriana e, mais recentemente, da que se fica pelos "soft" brandos costumes do socialismo europeísta, mas sempre com a mesma metodologia dogmatista, dado que no imanente não há "delete", dita hoje a seguinte sentença, "ex cathedra":
"Os nacionalistas de direita e de esquerda, bem como os 'soberanistas' em geral, não terão dificuldades em votar convictamente contra o referendo que vier a ter lugar sobre o novo tratado, pela simples razão de que este se assume expressamente como uma Constituição sobreposta às constituições nacionais...Mas já surpreende que uma pessoa bem informada como António Barreto... ....".
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Não entrarei nos pormenores dialécticos emitidos pelo futuro autor de mais um notável comentário do comentário da glosa do Texto. Apenas registo como, suavemente, dita o seguinte: os nacionalistas não são pessoas bem informadas. Por outras palavras, muito subliminarmente, semeia o quem não é por mim é desinformado, desinteligente e decontextuado. Só a minha crença é boa, inteligente e está com o Texto. Decretemos, decretinemos, glosemos, "textum nostrum qui est in paraiso..."
Apenas observo como ainda continua a pensar que as coisas são como ele verbalmente as nomeia, criando um hobbesiano mundo de abstracções, mas que pode não ser o mundo onde pomos os pés, nem o transcendente para onde lançamos os sonhos. Nunca o Leviatã das pretensas boas intenções do infernal geometrismo nos deu o céu. Porque sempre teve uma alma artificial.
Apenas acrescento como também decreta a existência de uma identificação entre nacionalistas e soberanistas. Como se Rousseau pudesse ser o Thomas Hobbes. Ou como Soljenitsine pudesse ser Lenine. Por isso, rir-me-ei, quando me for dado vê-lo lado a lado com Paulo Portas, no mesmo tempo de antena, já não social-fascista, mas unindo os não-nacionalistas de esquerda e de direita...
E tão-só concluo que, sendo nacionalista, não sou soberanista e que não preciso da respectiva benção para ser europeísta. Antes de ele se converter a tal, já aquelas correntes onde me integrava saudavam Walesa ou Havel. Porque nem todos os europeístas subscrevem tal via de unicidade constitucional para a constituição europeia. Porque nem todo o europeísmo persegue os nacionalismos. Pelo menos desde Mazzini. Ou dos pluralistas criadores da ideia de complexidade, ou de unidade na diversidade...
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Mesmo que na primitiva versão da nossa constituição um jovem candidato a papa do comunismo tenha retirado, do artigo primeiro, o necessário conceito de "comunidade", em nome da fidelidade à luta de classes, e tenha procurado expurgar, do restante texto, palavras como "nação" e "nacional".
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