A queda dos anjos
Calisto Elói de Silos e Benevides de Barbuda, morgado da Agra de Freimas, nascido em 1955, foi eleito deputado com 44 anos, por Miranda do Douro, quando na Câmara os "sociais-democratas" estavam na oposição.
Agora, ele que era "santo homem lá das serras, o anjo do fragmento paradisíaco do Portugal velho caiu" .
"Caiu o anjo, e ficou simplesmente o homem, homem como quase todos os outros, e com mais algumas vantagens que o comum dos homens".
Os adversários chamaram-lhe reaccionário e acérrimo. Respondeu: "sou social-democrata do século XXI no rumo em que o farol da civilização alumiava com mais clara luz".
Mais disse que escolhia "o seu humilde posto nas fileiras dos governamentais, porque era figadal inimigo da desordem, e convencido estava de que a ordem só podia mantê-la o poder executivo, e não só mantê-la, senão defendê-la para consolidar as posições, obtidas contra os cobiçosos delas. Reflexionou sisudamente, e fez escola. Seguiram-se-lhe discípulos convictíssimos, que ainda agora pugnam por todos os governos, e por amor da ordem que está no poder executivo".
Depois de se "enlevar nas delícias dos States" de se flagelar na "ciência pós-moderna" e na leitura de "livros pós-modernos" e fechada a legislatura, "foi agraciado com a comenda da Ordem da Liberdade, e carta de conselho. Sondou o ânimo de alguns influentes eleitorais do PSD local para reeleger-se pelo seu círculo como delegado ao Congresso. Disseram-lhe que o mestre-escola lhe hostilizava a candidatura, emparceirado com o boticário. Arranjou o comendador duas propostas de colaboração com a Lusomundo, que fez entregar com os respectivos diplomas, aos dois influentes. Na volta do correio foi-lhe asseguarada a eleição. Que, de mais a mais, o Governo apoiava".
De Camilo Castelo Branco, com a devida vénia, texto de 1866
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