Marcelo no DN e Balsemão PR
O meu amigo Giraldo, que ainda é militante do PSD, acabou de me desinformar sobre o que circula, nos circuitos laranjas de aconselhamento lisboeta, sobre essa boa nova para a grande família social-democrata, segundo a qual Santana vai abandonar a táctica da pega de cernelha e passar imediatamente à pega de caras. Parece que o Professor Marcelo Rebelo de Sousa será convidado para o cargo de director do "Diário de Notícias", com categoria plenipotenciária. Terá carta branca para a mobilização de colaboradores, dado que Luís Delgado será o próximo embaixador em Washington, mesmo que vença Kerry.
Para cúmulo da nova estratégia que levará o Congresso do PSD ao rubro, consta também que Pedro Santana Lopes já endereçou um convite a Francisco Pinto Balsemão, para que este assuma a esperada candidatura presidencial. Desta forma, se inverterá o negro ciclo que se avizinhava, dado que, em vez da anterior via que levou o partido, de vitória em vitória, até à derrota final, teremos agora a justa linha que, de derrota em derrota, levará os laranjas à vitória final. Para o efeito, por sugestão de uma conhecida astróloga, vai ser erigida uma modesta, mas simbólica, capelinha a Santa Eva Monroe, num pequeno monte alentejano onde, ao que parece, havia uma ruína de quarenta metros quadrados de um megalítico monumento. A capela devidamente licenciada, apesar de ter cento e vinte metros quadrados, não ofenderá o regulamento do parque natural, graças à colaboração de um recente satélite espião de uma empresa russa subcontratada por uma multinacional norte-americana, especialista em carne para canhão.
Com estes dois furos postos no ovo complicado da actual conjuntura política, as legiões laranjas voltarão a mobilizar-se para uma nova onda vitoriosa que, do fundo da província à emigração, conduzirá o bom povo lusitano ao máximo de prazer com um mínimo de dor. Ao que parece, a grande entrevista concedida por Diogo Freitas do Amaral a Judite de Sousa não demoveu as intenções do líder laranja, face a algumas gralhas ocorridas, desde a que incluiu Rocco Buttiglione como militante do "Opus Dei", à silogística demonstração feita pelo antigo líder democrata-cristão sobre as posições tomadas pelo seu companheiro italiano da democracia-cristã, com base nos "soundbytes" e nas parangonas recolhidas pelos jornais, quando um simples telefonema para o movimento "Comunhão e Libertação" cá da praça lhe poderia fornecer o texto e o contexto. Quando começou o programa sobre Salazar e Franco, desliguei o aparelho, por razões de higine mental.
Qualquer semelhança entre o texto emitido e as actuais circunstâncias não é apenas coincidência. A história constitui, na verdade, o género literário mais próximo da ficção. E quando se repete tanto redunda em tragédia como na presente comédia.
A propósito deste "post", recebi o seguinte desmentido:
Em nome de Deus, o Clemente, o Misericordioso
Caro Professor Maltez,
Escrevo-lhe a presente missiva para desmentir o seu post sobre a putativa sinecura do inefável e intangível Marcelo (o da TVI - não o cônsul romano conquistador de Siracusa e matador de Arquimedes). Marcelo (o da Alta Autoridade - não o derradeiro cônsul do Estado Novo) só espera a eleição presidencial de Pinto Balsemão (o da SIC - não o aclamador d'El-Rei Junot) para obter o lugar vitalício de Chefe da Casa Civil.
Marcelo (o dos comentários - não o galã italiano das telas de cinema) sabe bem que os «tachos» em conglomerados empresariais da comunicação social se tornam rapidamente em verdadeiras «fritadeiras» que transformam celebridades em efemérides e personalidades em notas de rodapé.
Marcelo quer ser o pai do novo regime que aí vem, como demonstrou na sua inquirição-comentário-ensaio-narrativa-folhetim ao pretender inventar em directo, urbi et orbi, o conceito politológico de «partidos de cartel».
Marcelo quer ficar na história deste país como o homem que, formalmente fora da política e graças a um simples gesto, demitiu o Governo e dissolveu o Parlamento onde o partido a que pertence (mas que considera, acima de tudo, seu) ainda é maioritário.
Marcelo realiza a sua estética nihilista servindo-se do surrealismo quotidiano que nos é imposto pelas mediocridades palacianas que nos dirigem do alto dos seus cargos e do segredo dos
respectivos privilégios para prosseguir a sua guerra santa privativa contra tudo e contra todos.
Marcelo não tem fim e é por isso que não tem remédio.
Ora aqui na única secção do PSD de Lisboa e Vale do Tejo que não elegeu qualquer delegado ao próximo congresso de Barcelos, aguardam-se notícias acerca do relatório de Artur Portela sobre a «marcelada» e já se adivinha que a montanha bem pode parir um rato: o Sr. Conde da Anadia
acabará por pagar alguns encargos e empenhos do inquiridor/ex-jornalista/ex-cronista
para evitar a abominável cassação do seu alvará televisivo...
Almourol, 29 de Outubro de 2004
Giraldo, o último wahhabita lusitano
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