Arlequins em vestes solenes e mentiras venerandas. Recebido de WWW.pt
Extracto do livro "Diário de uma toxicodependente"
-Ambrósio….apetecia-me algo…
-Mais? Senhora minha. Cuidai que estais a ficar viciada e eles só são culpados por aquilo que lhes falta.
-Mas Ambrósio…apetecia-me algo…depois de ontem, a minha atmosfera interior, exige-o.
-É para já, Senhora. Um outro prato de esbirros polvilhado de pesticida crókante, serve?
-Ai, não Ambrósio! Prefiro repetir aquela entrada de arlequins em vestes solenes salteados no flâmbê de mentiras venerandas.
E, ao dizê-lo, o pudor esbraseou-lhe as faces pela assumida dependência dos dias que correm qual íman magnetizador dos objectivos do poder.
Propagava-se no seu sangue a absoluta necessidade de mais do mesmo.
Corpo e mente submetiam-se já a um demónio ignaro que a dominava e a possuía devagar ao sabor da ordem imposta que acompanharia em perfeição o seu destino.
De longe, e à medida que a luz se desfalecia, o pintor que a retratava, perdia-se, lânguido, na espessura que não invertia qualquer aparência de vida.
Quando o sol se dissipou por completo, também dele não houve mais sinal.
12 de Dezembro de 2004 - dia e ano de todos os algozes representarem os interesses e as cumplicidades sem qualquer escândalo que se interprete excessivo.
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