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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

12.12.04

Arlequins em vestes solenes e mentiras venerandas. Recebido de WWW.pt



Extracto do livro "Diário de uma toxicodependente"


-Ambrósio….apetecia-me algo…




-Mais? Senhora minha. Cuidai que estais a ficar viciada e eles só são culpados por aquilo que lhes falta.

-Mas Ambrósio…apetecia-me algo…depois de ontem, a minha atmosfera interior, exige-o.




-É para já, Senhora. Um outro prato de esbirros polvilhado de pesticida crókante, serve?

-Ai, não Ambrósio! Prefiro repetir aquela entrada de arlequins em vestes solenes salteados no flâmbê de mentiras venerandas.




E, ao dizê-lo, o pudor esbraseou-lhe as faces pela assumida dependência dos dias que correm qual íman magnetizador dos objectivos do poder.

Propagava-se no seu sangue a absoluta necessidade de mais do mesmo.

Corpo e mente submetiam-se já a um demónio ignaro que a dominava e a possuía devagar ao sabor da ordem imposta que acompanharia em perfeição o seu destino.



De longe, e à medida que a luz se desfalecia, o pintor que a retratava, perdia-se, lânguido, na espessura que não invertia qualquer aparência de vida.

Quando o sol se dissipou por completo, também dele não houve mais sinal.

12 de Dezembro de 2004 - dia e ano de todos os algozes representarem os interesses e as cumplicidades sem qualquer escândalo que se interprete excessivo.

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