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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

10.12.04

A Madeira é um jardim...com espinhos



Para efeitos de registo, foi ontem emitido na RTP2 um programa sobre o jardinismo, onde participei. Segundo o site do Clube dos Jornalistas tentei enquadrar, do ponto de vista político, o caso – digno de estudo, segundo disse – da Madeira e do seu presidente de Governo. Eis algumas frases que recolheram:

"O caso da Madeira e do dr. Alberto João Jardim é um excitante objecto laboratorial, delicioso, faz parte do nosso património cultural em democracia"




"O que temos aqui é um caso muito especial de personalização do poder que rima com democracia. E um caso de êxito. Só que acho que não é tão original quanto parece. O dr. Jardim é um caso de sindicalista autárquico, é um problema de cultura paroquial e que tem antecedentes – o caciquismo clássico da monarquia liberal, o caciquismo republicano como o de Jacinto Nunes, ou então os vice-reis salazaristas como o dr. Bissaia Barreto o eng. Camilo de Mendonça"

"Aqui há um jogo de pressão brutal, mas aberta – enquanto noutros locais há pressões ocultas. O dr. Alberto João Jardim equivale a Pinto da Costa – quando pressiona é de forma aberta, caricatural e estudada"



"Sem querer fazer comparações vou fazer uma confidência: tenho alguns amigos guineenses que me dizem que o dr. Kumba Ialá, quando vinha a Lisboa, uma das suas tarefas indispensáveis era recolher todas as cassetes com a actuação do dr. Alberto João Jardim. Portanto, o fenómeno já foi exportado. E não vou dizer que o dr. Kumba Ialá é um selvagem. Isso é fruto de falta de conhecimento, de falta de olhar antropológico correcto. O dr. Kumba Ialá é até um sujeito de grande qualidade, mesmo política"

"O nome regionalismo pode ser uma mentira. Na Madeira, há centralismo ou estatismo sob o nome de regionalismo".




Por tudo isto, fui imediatamente mimoseado com alguns "mails", onde fiquei a saber que "os senhores hoje prestaram foi um mau serviço á democracia", porque "o programa foi anti-democratico o jornalista que apresenta o programa não é poder, não é policia, não é juiz. Durante 50 minutos espremeu o pescoço ao único indíviduo que apareceu de gravata". Apesar de, no debate, estarem cinquenta por cento de engravatados, informo outros "mailantes" insultuosos que recebi, num acaso curioso, que não pertenço ao Bloco de Esquerda, não tenho medo e tive muito orgulho em dar voz a muitos madeirenses sujeitos à ditadura da maioria vigente na região. Escusam de tentar pressionar o director do Instituto de Defesa Nacional para eu deixar de conferenciar a jornalistas. Desde que a instituição foi portizada, tenho a honra de poder declarar que o distinto colaborador de um blogue de assessores já conseguiu mostrar serviço a sua Excelência o Senhor Ministro da Defesa Nacional: o Maltez já lá não fala, como o fazia desde 1987! E que viva o santanal e os também os fazedores da Universidade das Forças Portizadas!