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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

11.12.04

O PSD já não é PSD. O CDS já não é CDS. Viva o PSL, viva o PêPor!



Sei de ciência certa e sem poder absoluto que este fim de ciclo não é o fim do princípio nem o princípio do fim, mas mera anaciclose, tipo pescadinha de rabo na boca, porque o processualismo é inevitável nesta democracia formal, dominada por uma certa legitimação pelo procedimento, por esse menos mal de a forma ser irmã-gémea da liberdade e inimiga do arbítrio, conforme glosou o grão-notário do regime. Esse processualismo que não quis, à esquerda, aprofundar a dita democracia e transformou a direita em plastificada fábrica de gente sem autenticidade.



E é esta gente de encruzilhada que vai monopolizando a palavra pública, nestes trejeitos encenados, de massajadas criaturas, com adereços de infâmia, onde os Dias Loureiro continuam a ser o que Ângelo Correia sempre foi, engenheiros de solenes verbosidades, especialistas em viagens pelos meandros das nossas águas profundas, fazedores das novas Cortes que se anunciam, até porque são sempre amigos dos adversários que fingem ter, para que ninguém tenha alguma coisa sem a respectiva intermediação.



Os tempos que virão serão inevitavelmente restos deste tempo que passa, porque, à esquerda e à direita, dominam os mesmos seres dependentes de valores estranhos àquilo que deveriam ser os valores regeneradores da república, daquela necessária cidadania onde o patriotismo não deveria confundir-se com o discurso patriotorreca, susceptível de se tornar presa fácil de um qualquer tempo de antena ou de uma qualquer condecoração de medalhas de heroicidade, a serem distribuídas por um qualquer manequim ministerial.



Deliciai-vos estimandos ocupantes dos cadeirões do Estado, com vossos fortes de fim-se-semana, com vossos motoristas de todas as horas, com vossas contrapartidas vitalícias pelos favores contratuais provisórios feitos eternamente aos donos que permanecem e que agora se escondem atrás dos cortinados deste palco de vaidades.



Mas não me entusiasmam as vermelhas bandeiras do avante camarada que, apesar de representarem uma viagem de autenticidade à volta de um tempo que já não há, apenas são o que parecem, a força da coragem e o colectivo da fidelidade face a um colectivo que nunca foi o meu. E se me sorrio com as metáforas sobre os "almirantes de doca seca" e do "ministro-sombra de todas as pastas", com que Louçã nos brinda, prefiro outra alternativa a estes "homens-pobres" do "enrique-ser" que fingem ser "poetas do cifrão".



Pessimista, sinto que tenho um sonho que continuará projecto por cumprir. Sinto que a força se esvai por entre estas minudências da cozinha politiqueira , onde tudo é imagem, sondagem e sacanagem. Pode ser que, daqui a algumas horas, este governo de gestão apresente a demissão, para se armar em vítima e que se desencandeie a mais louca das campanhas populistas a que Portugal assistiu, onde até poderá aparecer um ex-Primeiro-Ministro a prometer que, se for eleito, proporá a imediata dissolução do Presidente da República. Esta gente é capaz de tudo e o PSD já não é PSD, mas PSL, tal como o CDS já não é CDS, mas PêPor. A democracia ameaça regressar àquele PREC que chegou a ser um manicómio em autogestão e não chegam os actos de um qualquer notário bem intencionado, por mais conselheiros constitucionalistas que mobilize.