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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

5.12.04

Os sublimes eflúvios serôdios deste interregno


O bom povo lá vai de plataforma, a caminho de mais uma manifestação espontânea

Sucedâneo de ditador é aquele que tem uma corte de bajuladores, desses pretensos grandes do pequeno reino das Berlengas, que são o que sempre foram, uns solenes miseráveis. Os que na noite dos mártires da pátria, dizem, como Pilatos, que felizmente há luar. E assim vai a nossa pequena razão de Estado, que sempre teve o estadão dos estadinhos, onde dominam aqueles que transformam a respectiva impotência em vingançazinha de salamaleques e que acabam os muitos dias em que deveriam cuidar dos bisnetos, excitando-se com as sublimes diabruras do burocrata ávido de despacho, enquanto gerem as muitas cunhas para o subsídio e exigem a cobrança de anteriores favores feudais.

Ainda há dias ouvi a história de uma dessas felpudas criaturas que serodiamente ascendeu às alturas do vértice das coisas que gerou, em nome das promessas de contrapartidas que uma destas ministeriais altezas do interregno lhe prometeu. Porque nestas fases de transição emergem sempre tais seres de intermediário cinzentismo. Os tais que se refugiam nos esgotos alcatifados, esses parasitas da república que, mesmo sendo evidentes cadáveres adiados, ainda nos escouceiam, só porque resistem as cortes dos que os alcandoram, onde o identitário passa por saudarem em uníssono o bem cheiroso daqueles eflúvios que o diabo não consegue pintar de verde. Estes micro-autoritarismos do nosso regime demencial propagam-se nesta mistura de pão e circo, onde muitas homenagens póstumas a liquidatários vivos se transformaram em autênticas epidemias de anedóticos batuques