Já não há segredos que nos devorem. Recebido de A.A.
E hoje ouviu-se durante toda a tarde e em todos os locais públicos e privados as pessoas a cantarem:
desculpe o àué eu não quiria máguar você. Foi esquecimento sim…
E nós pimba, tínhamos que adivinhar o porquê da cantoria
Também se ouviu outro que a solo cantava:
Foi na quarta-feira passada que passei na casa da mariquinhas e de lá rompi magano e altivo como as rainhas
E nós pimba, tínhamos que adivinhar o porquê da cantoria
Depois, o mesmo cantor, já noutro local mas igualmente público, prometeu vingança cantando:
Que Deus me perdoe se é crime ou pecado mas eu sou assim falando dou brado
E nós pimba, tínhamos que adivinhar a razão da cantoria
Pela noitinha, e apesar do cansaço das gentes, eis que em todos os transportes públicos o povo também cantava:
Ponde ponde nas mangas dos casacos um sinal de negro fumo e que se diga por toda a parte que o país perdeu o rumo…
E nós regressámos à redacção do tempoquepassa a pensar o quanto tinha razão Maurice Cranston quando afirmava que não existia política no céu, porque todos estão perfeitamente bem.
Mais: a interpenetração entre o cogitans e o cogitatum é exactamente o que sustenta a moda destes desportos radicais do actual pensar que muito fazem subir a adrenalina e se reconduzem tão-só à coisificação do sujeito.
E os curricula - ainda que muitos possam pensar que nada vêm aqui ao caso - são realmente coerentes: são a unidade na unidade monolítica.
E mais não dissertamos pois corremos o risco que ninguém nos leia, por isso cantamos também mas, baixinho:
Não és navegador mas emigrante legítimo português de novecentos!
A.A
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