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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

5.12.04

A pândega...Um pouco de análise económica desta democracia. Recebido de L.L.



Isto já não é uma pândega é uma tragédia nacional e internacional (veja-se o que a imprensa estrangeira afirma a “nosso” respeito) que levou à uma gravíssima crise económica, plenamente instalada com os responsáveis pela mesma em total impunidade, e com a possibilidade de os ditos serem candidatos nas próximas eleições.
Como é difícil, nestas circunstâncias assumir esta democracia!

E já se pensou que sem um governo de abrangência nacional, competente e apartidário que coloque alguns pontos nos is e os explique ao povo, o que teremos é uma oposição que se sobe ao poder leva com ela não uma batata quente, mas um míssil de longo alcance no qual, inevitavelmente se auto-implodirá enquanto os responsáveis desta tragédia surgem como novos candidatos a dizerem com o dedinho apontado: nós não dizíamos que eles não eram capazes?

Ora bem atrevamo-nos à sensibilidade económica da questão.

Fixemo-nos em objectivos de médio e longo prazo. O curto prazo está visto e é o que é.

Em rigor, o orçamento do Estado não pode continuar a ser visto como a caixinha do dinheirinho daquele ano e depois arranjem-se que os buraquinhos da caixinha deram para escorrer moedas bastantes para os bolsos de quem faziam mira e pontaria aos ditos furinhos, porque a isto também se chama desorçamentação e ela é uma realidade tradicional.

Ora, salvo todas as melhores opiniões, que eu saiba um dos princípios do Reino Unido no que se refere a matéria de politica económica, na vertente da politica orçamental, é aquele que possibilita que um Governo se endivide caso essa dívida sirva para financiar investimento e não despesas correntes.

Em Portugal ameaça-se o Presidente da República caso não concorde com isto, visto que se afirma do modo mais descaradamente demagógico que ele está contra o povo porque até nem permite o aumento das pensões!

Tão preocupados que estão com o povo quem à custa dele já se governou e ainda tem possibilidades de se achegar a mais uns restinhos.

Mas continuando a questão económica, a verdade é que no Reino Unido se pensa numa óptica plurianual do orçamento, mas também é verdade que essa política pressupõe sérios conhecimentos da macroeconomia e das contas públicas, sobretudo com a máxima transparência destas últimas.

Não é irrelevante que o Reino Unido tenha tido o melhor desempenho económico sustentado entre os países mais desenvolvidos.

Aqui, volto a insistir: ameaça-se o Presidente caso o orçamento que se vai apresentar depois de tanta desvergonha e desatino, não seja promulgado inequivocamente e com a antecipação necessária ao não stress do governo.

Nunca vi semelhante desplante e já estou velho!

Tanto quanto posso intuir, acresce que para que haja um desenvolvimento da economia social é preciso ter em conta que esta depende do contexto socioeconómico em que se insere.

E onde está o dito contexto? Na fanfarra do drama?

A cresce também que a economia social se engloba numa lógica de prossecução de valores sociais enquanto modelo alternativo e complementar da actividade económica.

Então onde está o envolvimento das fundações, das associações, das cooperativas e de outros parceiros que deviam estar actuantes aos meios e à exequibilidade dos mesmos para que estas entidades pudessem ser o que o Estado nem o mercado pode ser?

Como a desgraça ataca sempre os mesmos e ao povo se não escuta, porque não acentuarmos o desemprego? É que até parece que esta é a mais brilhante ideia que este governo teve, já que assim todos protestam, a guerra instala-se e eles navegam por sobre as ondas a toda a vela.

Mas, senhores leitores do tempoquepassa, não concordam que fácil, fácil é mesmo que a grande fatia do sector privado não saiba adaptar-se a qualquer mudança que não venha à custa do desemprego?

Não é sabido que o reforço da competitividade e as exigências da modernização apenas implicam que, quem hoje sai de casa para trabalhar às 6 h. da manhã pois que saia às 5h que tudo se compõe?

Ninguém se preocupou com a pobreza e o fenómeno da exclusão a que chegámos?

A verdade é que ninguém quer saber com realidade objectiva, como se combate a economia clandestina, não vá a solução dar efeitos positivos e depois quem votaria de novo naqueles que deste fenómeno fizeram tábua rasa?

Também não interessa averiguar se os atrasos nos Tribunais se devem ao facto de os juízes desempenharem também funções de escriturários, ou, se se deve ao facto de se aceitar adiamentos de sucessivas audiências muitas das vezes sem justificação e, se esta prática se deve à falta de experiência de vida dos jovens juízes, só superada no final de vários anos, a custo das empresas, dos trabalhadores ou do cidadão em geral visto que também a falta de julgamentos em tempo útil contribui para a desgraçada economia não funcionar, ainda que neste sector, como em todos os outros, nunca se distinga entre os que trabalham e os que o fazendo, ao menos com maior preguiça, se vêm premiados pela ausência de rugas e hérnias ao nível do céfalo.

É óbvio que todo o excesso burocrático é um polvo que se não deseja erradicar, que mais não seja porque se não descortina o nexo de causalidade entre a responsabilidade do “poder de agenda” deste animal e o poder que enfim e sempre lhe dará toda a margem de manobra.

Vamos pois a eleições. Aprove-se o orçamento que tanto beneficia ricos como pobres.

Obrigue-se os media a escutar e transmitir todas as tonteiras que se possam dizer.

Decrete-se o estado de sítio no exacto local onde ausente está o respeito por todos!

Que as emergências se resolvam nas conversas dos chamados núcleos duros dos pensantes, e sobretudo assista-se com complacência ao cortar das raízes de um povo, cujas mãos já desistiram de procurar qualquer espessura, onde o tempo de sobrevivência, conte.

De resto, é sabido ainda que o gás natural e mesmo o carvão , ainda “respeitam” o petróleo como preço director. Dá para pensar…não dá?

Persistindo défices profundos a nível da educação e da formação das pessoas, persistindo as empresas em não reconhecer a mais-valia da formação contínua, salvo honrosas excepções, o que valem os objectivos ainda que bem discernidos se a matéria prima, ou seja, os seres humanos, ainda são tratados em estabelecimentos de retalho do soma e segue?

Meus Senhores, onde estão as almas-reserva desta Nação?

É que ensaiando o ditado castelhano e escrevendo-o ao jeito das bruxas: qué las ai lás ai…

L.L.