Aqui, onde "ninguém a ninguém admira e todos a determinados idolatram" (Almada)
Um antigo companheiro meu em andanças universitárias e combates culturais, mas nunca político-facciosos, depois de muitas e corajosas viagens governamentais e partidárias, onde sempre se assumiu como "católico, conservador e monárquico", foi hoje indicado para o mais alto cargo de uma das principais instituições bancárias portuguesas. O crivo avaliador a que são sujeitos os que atingem tal posição não permitiria, certamente, que ascendesse à postura em causa quem, para tanto, não tivesse demonstrado qualidades científicas, profissionais e pessoais, pelo que é justo saudar que, entre nós, ainda haja quem sabe avaliar o mérito.
É evidente que, da tríade identificadora do Paulo, não comungo da confissão religiosa e até tenho sérias divergências quanto ao que ele entende como conservador e como monárquico. Sou mais "whig" do que "tory" e, não deixando de ser adepto da eleição do rei, navego noutras águas originais do pluralismo anti-unitário e do consensualismo liberdadeiro, sem falar, evidentemente no "Opus Dei". Mas as divergências, algumas vezes vivas e agrestes, sempre nos permitiram um intenso diálogo e reconheço aquilo que sei ser uma recíproca admiração, onde não faltam daquelas cumplicidades que passaram por Agostinho da Silva e pelas saudades de futuro sobre o quintimperialismo, de que Paulo é um especialista.
Por isso estranho que os "curricula" constantes dos jornais económicos apenas digam que o Paulo "é autor de estudos universitários, numerosos artigos em jornais e revistas, sendo orador em numerosas conferências. Entre as suas publicações, destacam-se "Compêndio de Direito Económico e Financeiro", em co-autoria (1991); "O Associativismo Empresarial" (1998); "Um dever chamado futuro" (2001) e "Querer Crer" (2002)". Porque, o primeiro grande trabalho do futuro presidente do BCP é precisamente "O Direito ao Império em D. Sebastião", Lisboa, Universidade Livre , 1985, onde o jovem pesquisador e crente, assumia a raiz do universalismo português. O que dá conforto a este independentista, porque, sabendo ler tais sinais, posso dizer que teremos nele, sem dúvida, um factor de esperança contra o perigo de uma "Opus-Castela". Quem disse que um sebastianista não percebe nada de finanças?
Confesso que não é por ter um conhecido e afectivamente próximo nessas alturas que deixarei de manter a anteriana denúncia da deriva "banco-burocrática" e que apagarei com lixívia o muito que sobre a matéria tenho escrito. Até me recordo que o Paulo, um certo dia, me elogiou por ter escrito, num artiguelho de há muitos anos, uma pequena frase onde denunciava certa cobardia lusitana, daqueles que costumam dizer: quando me falam em inteligência, puxo logo do livro de cheques.... Mantendo-me como homem livre, da finança e da partidocracia, sei também reconhecer que pode haver homens livres nessas mesmas teias da finança e da partidocracia. Espero que o Paulo não me desiluda. Acredito que demonstrará que a cultura pode rimar com banca e que a coerência não se vende às conveniências.
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