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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

17.1.05

Les vieux garçons, les ganaches ou os caturras...



Acabou de realizar-se o último programa de José Manuel Fernandes na RTP, notável em todos os aspectos senatoriais, especialmente pela clarividência histórica emitida e pela demonstração da notabilidade gerontocrática do nosso sistema político, porque todos os convidados estiveram de acordo em como estão em desacordo, lutando contra a promiscuidade da pluralidade de emprego, aposentadorias ou reformas, avaliadoras, petrolíferas e fundacionais, e assumindo a bandeira de revolta contra o corporativismo e o neo-corporativismo. Por outras palavras, olha para aquilo que eu digo, não repares naquilo que eu fiz, faço ou farei na mesa do Orçamento que, além de exíguo, é cada vez mais exógeno, porque nomeámos um ministro do mar e desaparece a frota, apesar de ser bom o pescado no Grémio Literário com o hierarca chinês que foi recentemente nomeado relações públicas do navio-escola "Sagres".



Foi especialmente notada a intervenção do Professor Domingos Fezas Vital (1888-1953), um distinto professor de direito, que foi reitor da Universidade de Coimbra com a Ditadura Nacional (1927-1930), presidente da Junta de Educação Nacional (1940-46) e da Câmara Corporativa (1944-46), para além de dirigente da Causa Monárquica e lugar-tenente do duque de Bragança (desde 1942). Porque a ele se devem as mais lúcidas intervenções da noite sobre a reforma eleitoral e o perigo de transformação do corporativismo de associação em corporativismo de Estado, como era de exigir de um dos mais distintos autores de clássicas lições de "Direito Corporativo" que estava "mesmo aí aflito para dizer qualquer coisa". Foi pena que, por doença, não estivesse presente outro distinto jurista, Álvaro Barreirinhas Cunhal, bem como o sempre jovem Emídio Guerreiro, a fim de comentarem a proposta de despedimento de 200 000 funcionários públicos, conforme o quase ministro de Durão Barroso, um tal Valadão, recentemente mobilizado para o esforço reformista de Sócrates.



Destacamos também a referência a um esquecido manual de educação cívica, escrito durante a Primeira República, da autoria do general de brigada José Maria Latino Coelho (1825-1891) que só por azar viveu antes da Revolução da Rotunda, a do Machado Santos de 5 de Outubro de 1910, antes da epidemia dos adesivos e dos viracascas. Mas não faz diferença, ele, o iberista, foi ministro da marinha e do ultramar, sócio efectivo e secretario perpetuo da Academia Real das Ciências de Lisboa, lente na Escola Politécnica, vogal do Conselho Geral de Instrução Publica, deputado, par do reino, jornalista, escritor, etc. Talvez a referência invocada caiba ao patriótico trabalho A Iberia; Memoria escripta em lingua hespanhola por um philo-portuguez, e traduzida na lingua portugueza por um philo-iberico, Lisboa, 1852; com dois mapas; ou à Encyclopedia das escolas de instrucção primaria dividida em tres partes: composta por distinctos escriptores, Lisboa, 1857. Contudo sempre assinalaremos que o autor também traduziu do francês a comédia em 5 actos de Sardou Les vieux garçons, com o título de Solteirões, que se representou nos teatros do Príncipe Real e D. Maria II; e bem assim a comédia em 4 actos Les Ganaches, de Sardou, com o título de Caturras, que se representou no teatro de D. Maria II. E como sempre foi um homem de causas que foi mudando de causa, participou activamente no entusiasmo de todas as constituintes, mesmo que tenha alinhado com quem imediatamente votou contra a Constituição, prevendo que o centeio e o trigo desaparecessem dos campos, tal como o cherne abalou, deixando-nos as espinhas dos carapaus de corrida.



De qualquer maneira, estamos inteiramente de acordo quanto à criação de uma CNAVE, Comissão Nacional de Avaliação Vérmica das Elites, a ser dirigida por uma brigada de notáveis, porque só depois desta actividade graciosamente não paga é que poderá emergir um adequado movimento de capitação mental, visando liquidar a impunidade, capaz de derrubar pela gargalhada este sistema do mais do mesmo, para que Henrique, o anglicano, não decapite Tomás, o santo, que dele foi ministro da justiça. Mas, antecipando-se à revolta a RTP já avisou, em nome do voto útil e dos onúteis, que na próxima segunda-feira se dará "o regresso do um contra todos", porque "há que ter garra, espírito de jogador e muitos conhecimentos para vencer neste jogo! Um jogo de emoções, uma prova de fogo aos que sabem de história, geografia, língua portuguesa, desporto... quem aguenta a pressão? Quem vai ocupar a cadeira e ganhar o grande prémio? Prepare o seu telemóvel... participe a partir de casa e ganhe um fantástico telemóvel Samsung D500! Assista ao regresso de José Carlos Malato aos seus serões... segunda-feira venha jogar no… “UM CONTRA TODOS”! Assim teremos novas causas para a nova definição do país e será mobilizado o eleitorado, combatendo a irresponsabilidade e a desconfiança dos que nunca cumprem as promessas.