a Sobre o tempo que passa: <span style="font-family:georgia;color:red;">Imposteiros, impostados e alguns embustes de campanha</span>

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

18.1.05

Imposteiros, impostados e alguns embustes de campanha



O coordenador do programa eleitoral do PSD, António Mexia, só por acaso ministro de um governo demitido, anunciou hoje que, finalmente, vamos ter uma linha ferroviária de alta velocidade entre Lisboa e Porto, a mesma que o seu antecessor e camarada de partido anunciou, mas que agora custará menos 1,6 mil milhões. Mais ficámos a saber que se as obras começarem no último trimestre de 2006 ou nos primeiros três meses de 2007, estarão concluídas em 2012. Istó é, no longo prazo, bem mutável pelo próximo ministério antes do mesmo ser demitido.

Só então a ligação entre Lisboa e Porto se fará em 1 hora e 35 minutos, por acaso mais 25 minutos face ao anterior tempo de referência. Agradecemos à providência esta poupança em euros e este aumento de meia hora nas nossas futuras vidas e estamos certos que o futuro governo, eventualmente de outro partido, não fará o que este fez ao governo do seu próprio partido. Pelo menos, dá para construir mais duas pontes sobre o Tejo, de Lisboa para a outra banda, numa situação tão estudada que uma delas até pode ser em forma de túnel, depois de adequado estudo do impacte ambiental.

Campanha é esta flagrante violação dos deveres de um governo de gestão, mas julgamos que poucos já engolem a febre inauguradora, bem como os protestos do Partido Socialista, quando diz que estão a inaugurar obras que foram lançadas pelo governo de Guterres. O povo é que paga!



Bem gostaríamos que estes especialistas em gerirem mal o dinheiro de nós todos fossem obrigados a indicar, em qualquer obra que lançam ou inauguram, a percentagem individualizada, por média, do dinheiro que cada cidadão é obrigado a entregar ao Estado.

Sobretudo que deixássemos de ser qualificados pelo eufemismo de "contribuinte", dado que não contribuímos voluntariamente naquilo que é "imposto". Valia mais chamar aos que gerem a nossa massa os "imposteiros" e aos que pagam os "impostados". Porque neste mesmo dia de São Mexia do Beato-e-galp, franceses, espanhóis, alemães e britânicos lançaram o mais avião de passageiros do mundo, o Airbus não sei que número, onde, tendo em vista a presente noção eurocrática de solidariedade social, vamos regressar à luta de classes, dado que, pelo menos haverá três, com casinos em voo para a de cima. Ora tomem!