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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

8.2.05

Das trapalhadas à trapalhice, no dia dos trapalhões



Nesta terça-feira gorda, as notícias são, afinal, as não-notícias, tal como fazer campanha eleitoral é não fazer campanha eleitoral. Primeiro, é Cavaco a desmentir uma notícia do jornal "Público", através da Lusa, por intermédio de "uma fonte próxima do ex-primeiro ministro", a qual disse que Cavaco Silva "desmente tudo o que lhe é atribuído na notícia". E explica: "o professor Cavaco Silva tem mantido o silêncio e quer continuar a manter-se silencioso". Isto é, Deus não fala, manda os seus profetas e os seus apóstolos, e estes, se dizem o que não convém, sempre podem ser desmentidos por outro do círculo concêntrico. Deus não tem a língua dos mortais. Paira em sondagens. Para que o povo continue à espera.

Dizem, aliás, as más-línguas que a fonte cavaquista foi obrigada a tomar posição depois de ouvir a diatribe de Alberto João contra o "senhor Silva", esse comandante da "brigada do reumático" que teme a luta de Santana Lopes contra o sistema. Aliás, Alberto logo pediu para se limpar o partido, abrindo um processo disciplinar ao tal "senhor Silva". Não consta que o nosso Kumba tenha dado a entrevista com o tradicional traje carnavalento, isto é, de cuecas cor de laranja.

Já Santana Lopes depois de ontem não fazer campanha e andar de "Falcon", para que os jornalistas assim conhecessem o tamanho da pista de Monte Real, decidiu hoje dar uma golpada mediática, bem conseguida. Pediu aos jornalistas para o verem a passear pelos jardins de São Bento, em companhia dos filhos, e "explicou" aos mesmos que parou a campanha política, porque é Carnaval, sublinhando que o seu trabalho como primeiro-ministro não pára.

«Porque a minha maneira de fazer campanha não é exactamente (igual à dos outros). Acho que já não se usam determinados tipo de campanha, como andar pelas ruas com tambores. Eu já quando fiz campanha por Lisboa mostrei que me recuso a distribuir sacos plásticos», sublinhou o primeiro-ministro demissionário. Santana Lopes disse ainda que não entende porque é que a oposição critica o facto de ter suspendido a campanha durante o Carnaval, e muito menos porque motivo está tão preocupada.

Aqui e agora, entre o ser e o não-ser, o ser é parecer o não-ser, para que tudo seja o que não é. Afinal, agora não há apenas trapalhadas. Há descarada trapalhice!