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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

5.2.05

O grão-mestre da insinuação, eu, o clero, e o regresso do silabítico



Entre o grão-mestre da insinuação e o grão-mestre da simulação, a direita a que chegámos vai queimando os cartuchos. Pedro não foi derrotado por Sócrates, ficou encantado, deu entrevistas à TSF e à RTP, em euforia, mas nelas reconhece, implicitamente, que já não vai lá e trata de campanhar para não ser usurpado pelo CDS e evitar a erosão abstencionista, quase falando para dentro do respectivo partido, criticando os notáveis laranjas que o não acampanham, mas elegendo como grandes figuras morais do respectivo grupo Eurico de Melo e Alberto João Jardim. Assim se explica como perde longos minutos de tempo de antena, elogiando ministros e colaboradores. Porque teme as deserções do seu próprio campo.

Emitindo indirectas e subliminares com ar cândido de maroto, diz que o PS tem um acordo secreto com o Bloco, que o CDS é um partido de 5%, 6%, e que os notáveis, os patrões e os banqueiros estão contra ele, ao contrário dos dois mil convivas do povo que foram ao jantar de Portalegre. Todas estas palavras foram rigorosamente pesadas e ensaiadas, num exercício de demagogia científica, dita intuição. Porque com o respectivo governo também temos menos criminalidade, menos greves menos área ardida e uma retoma igual à da Europa. Mas nada diz da partida lhe lhe fez São Pedro com a presente seca.

Ficámos a saber que, afinal, tem "muitos amigos que não levou para o governo" e que até conservou a chamada "tralha barrosista". Porque quer apenas "fixar o eleitorado de 2002", subir acima dos 29%, e que Portas "é um homem de palavra", enquanto no CDS é um "bibelot, um bijou", para a esquerda, a qual até esquece Cardona. Trabalha muito, conhece os dossiers. Porque "a minha comissão de honra é o povo". Para que "me ajudem a ganhar aos nossos adversários". Até porque quer o Cadilhe a vice-primeiro e um sinal de apoio de Barroso. Amen.



Vale-nos que o cardeal-patriarca de Lisboa, segundo o relato do jornal "Público", decidiu entrar na campanha, com um tema fundamental para a actual crise política e o enraizamento do nosso pluralismo e da nossa tolerência, fazendo um duro ataque à Maçonaria, onde reafirma a posição tradicional da Igreja Católica de incompatibilidade entre ser católico e ser mação. "Um católico, consciente da sua fé e que celebra a Eucaristia não pode ser mação", diz D. José Policarpo, na nota sobre a Quaresma, o tempo litúrgico que antecede a Páscoa. O patriarca acrescenta que um católico que porventura seja mação "convictamente, não pode celebrar a Eucaristia", porque catolicismo e Maçonaria (que veicula um "quadro gnóstico"), têm "visões inconciliáveis do sentido do homem e da história".

D. José Policarpo explica: "A Maçonaria sempre afirmou, e continua a afirmar, a prioridade absoluta da razão natural como fundamento da verdade, da moralidade e da própria crença em Deus. A Maçonaria não é um ateísmo, pois admite um 'deus da razão'. Exclui qualquer revelação sobrenatural, fonte de verdades superiores ao homem, porque têm a sua fonte em Deus, não aceitando a objectividade da verdade que a revelação nos comunica, caindo na relatividade da verdade a que cada razão individual pode chegar, fundamentando aí o seu conceito de tolerância."

A nota pastoral do cardeal situa a Maçonaria entre as visões da história racionalistas naturalistas que se contrapõem ao cristianismo e se baseiam na razão como fonte da verdade, no carácter absoluto da liberdade individual, e entre os pragmatismos de uma sociedade materialista, em que só tem valor o que é útil, rentável, ou dá prazer.

O Syllabus continua, afinal, actual, coisa que desconhecia, e o papa persistiria a não receber D. Maria Pia e D. Carlos, nem D. Luís I, nem D. Pedro V, nem D. Maria II, nem D. Pedro IV, nem sequer D. João V, quase todos os líderes da nossa I República, mais de três quartos do chefes políticos da monarquia liberal e grande parte dos hierarcas do 28 de Maio.

Como não sou maçon, protesto, enquanto liberal e azul e branco que não é laicista, nem agnóstico e muito menos confessional, mas que, quando lê estas notas tento controlar a minha irracionalidade anticlerical. Não há por aí nenhum Alexandre Herculano que se manifeste através de um adeuada Eu e o Clero.