Lúcia de Jesus dos Santos, Irmã Maria Lúcia de Jesus e do Coração Imaculado





A sua posta entristeceu-me muito. Não tanto por exaltar o martírio de alguém que foi enviado para a prisão perpétua há 70 anos - para sua própria protecção, como cinicamente referiu hoje um comentador de coisas religiosas -, mas, sobretudo, por não se referir ao miserável oportunismo dos que decidiram suspender a campanha. Quando vi o P. Portas, com ar sofrido, a sair do comício-jantar acenando como se já estivesse no Papa-móvel ficou claro o que pretendiam estas suspensões. Lamento, também, os que fizeram do seguidismo o seu ponto de ordem em tudo, em tudo, em tudo.
Outro, meu antigo aluno, foi também claro:
Caríssimo Professor,
Escrevo-lhe para partilhar consigo o que me ocorreu quando soube da interrupção de actividades de campanha por parte de alguns partidos, em virtude do falecimento da Irmã Lúcia:
Recordo-me, dos tempos da minha infância, de estar na aldeia de Sortes com os meus avós, aquando do falecimento de um qualquer ancião. A sua casa situa-se não longe da igreja, pelo que, sempre alguém da comunidade partia, a televisão ficava desligada, em sinal de respeito. Apesar da minha tenra idade, não me era difícil compreender a razão pela qual isso se fazia. Não é bonito conspurcar o pesar e a dor de uma cerimónia fúnebre com o ruído fútil e gaiteiro que a TV emite e que, nesses dias, raia o ímpio e o obsceno aos ouvidos de quem sofre a perda de um ente querido.
É assim que eu vejo estas interrupções na campanha, e é esta a mensagem subliminar que os líderes partidários enviam ao subconsciente da população portuguesa ao fazê-lo: Há que parar com o ruído futil e gaiteiro desta companha, sob pena de que, para além de fútil e gaiteiro, se torne ímpio e obsceno aos olhos de muitos. Se esta companha fosse uma actividade digna e nobre de esclarecimento e divulgação programática, haveria porventura razões para a interromper? Estou em crer que não.
O bispo emérito de Setúbal fala em oportunismo político, e D. Januário Torgal Ferreira em instrumentalização. Talvez não estejam errados, mas eu não deixo de ver no que aconteceu a vergonha que os políticos, lá no fundo, sentem pelas campanhas que promovem. Se a não sentem, tanto pior - mais razão têm, então, os bispos católicos.
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