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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

25.3.05

Delírios em sexta-feira de paixão, sobre os endireitas e quejandos...



De acordo com os dados das sondagens e do Instituto de Meteorologia, o mau tempo que se tem feito sentir nos Açores já está a caminho do Continente, de tal maneira que os eleitores do CDS e do PSD, aquilo a que impropriamente chamam direita, já consideram como excelente o governo de Sócrates, depois dos efeitos de um maremoto chamado Santana, Portas e Durão. Torna-se, portanto, impossível tornar a coisa livre dos tais danos provocados pelo PSD e pelo CDS, isto é, in-danizar, ou indemnizar as circunstâncias, pelo que compreendemos o carácter irrecusável da ida de António Guterres para alto-comissário da ONU para os refugiados da direita e da esquerda e saudamos as saudações elogiosas que o ex-messias da direita fez a José Eduardo dos Santos e a Lula da Silva.

Porque Cavaco, o grande refundador da direita que já não há, sempre foi da esquerda moderna, sempre foi do sempre, oportunista, e tem todas as condições para vir a ser o próximo ministro das finanças da personalidade-chave das esperanças lusitanas, um sujeito que, afinal, não existe, chamado José Pinto de Sousa, também dito Sócrates. E isto só porque há dez milhões de personalidades à procura de autor, neste ambiente de esquizofrenia colectiva, onde todos somos as tais bestas que, de vez em quando, mas por breves momentos de descompressão, julgamos ser bestiais e passamos, da cauda do pelotão, aos melhores do mundo. Da mesma forma, outra grande esperança da direita de sempre, o candidato que, de sobretudo verde, mobilizou Daniel Proença de Carvalho para mandatário nacional e permitiu que Cavaco se tornasse líder do PSD, depois de uma "Blitzkrieg" no Congresso da Figueira da Foz, acaba de desaguar no centrão, graças a um prefácio que escreveu para as obras políticas em fascículos de um MRPP que nunca deixou de o ser.



Nestas condições só quem assuma o exílio interno e estando fora do tempo, para poder ter razão antes do tempo, é que pode vislumbrar com precisão o que vai suceder quando passar a bebedeira dos que querem bater palmas ao vencedor, especialmente se apostaram no cavalo errado. Com efeito, concordo que a próxima direita e a próxima esquerda serão o que as actuais esquerdas e direitas não forem. Coisa que só poderá acontecer a quem encontrar a chave da abóbada do templo que permita ao pesquisador descobrir a agulha salvífica no presente palheiro, mas desde que o dito cujo consiga, depois, fazer passar o camelo, com as duas bossas, a da frente e a de trás, pelo buraquinho da mesma agulha certeira. Para tanto, de acordo com as melhorias teorias académicas, é preciso que ele actue de olhos fechados e que tenha a intuição do dever-ser.

Com efeito, tal como para as vítimas do "tsunami", o introspectivo medo da transparência parece estar a vencer as necessidades, face ao piramidal desastre eleitoral que a memória viva não consegue recordar, num país que nunca gostou de ali ter estrangeiros a presenciar a luta fratricida que opõe o exército estadual ao movimento pela libertação dos contribuintes. Daí que todos assistam emocionadamente às cenas emocionantes da disputa entre Menezes e Mendes, nessa luta entre a luz e a sua própria sombra, com o mago de Alter do Chão a assumir-se como o vingador histórico do Grupo de Ofir, onde nasceu para a ribalta da luta política, quando Francisco Lucas Pires ainda era presidente do CDS e Maria José Nogueira Pinto, que já foi subsecretária de Estado de Cavaco, antes de ser candidata a líder do PP, também ainda não tinha sido nomeada pelo Partido Socialista para um alto cargo de Estado em Madrid.



Em face dos considerandos supra-referenciados, o subscritor destes delírios de exílio interno, depois de ainda não ter visto a paixão de Gibson, e abstendo-se de comentar as últimas prédicas públicas de D. José Policarpo, declara, para os devidos efeitos, que quebrou, há muito, todas as cordas que o ligavam à realidade da direita a que chegámos. Repetindo a metáfora que tem vindo a bloguear há muito, continua a considerar-se alguém do extremo-centro, coisa que não é, nem nunca foi, o rigorosamente ao centro da equidistância, o tal estado geométrico que nos permite acedermos a ministros da esquerda, mas antes um centro excêntrico que nos eleva ao concêntrico do bom-senso. Estando, como sempre esteve, na esquerda da direita, procura continuar a ter a coragem de esquerda para se afirmar de direita, porque a esquerda a que chegámos sofre do vírus que afectou a tal direita que serviu de pretexto para a passada presente vitória da esquerda. Tem, aliás, a certeza que a nova direita velha que é a direita de sempre tem a estupenda vantagem de não existir ainda, dado ter saudades de futuro e estar à espera do "tsunami". Amen!