a Sobre o tempo que passa: 2009 ou a novidade do velho CDS

Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

24.4.05

2009 ou a novidade do velho CDS



Com o neocastrismo, regressa o velho CDS, com muitos filhos de anteriores dirigentes na nova direcção eleita por este XX Congresso, onde se fala num "novo ciclo, num recomeço dos fundamentos". Luís Nobre Guedes e Narana Coissoró deixam de fazer parte da direcção, onde se mantém António Lobo Xavier. O grupo parlamentar parece adverso e a lista de Telmo Correia vence as eleições para o Conselho Nacional. Ribeiro e Castro volta a recordar a necessidade da batalha autárquica e apoia a candidatura presidencial cavaquista. Se insiste na defesa do direito à vida, dá liberdade pessoal aos militantes quanto ao referendo sobre a Constituição europeia, onde, dizendo ser europeísta, continua a preferir "a Europa das nações". Repete várias vezes a ideia de "marca democrata-cristã" e o respectivo posicionamento na "direita democrática". Por outras palavras, perde-se a velha tralha discursiva de certo freitismo, das heranças piristas, adrianistas, monteiristas e portistas, gerando-se um modelo retórico com menos doutrinarismos e menos "soundbytes", sem os exageros do oportunismo confessionalista, numa espécie de mistura entre o chamado "conservadorismo não imobilista" e certa axiologia mais personalista do que democrata-cristã.



Os grandes hierarcas do partido são Luís Queiró, Maria José Nogueira Pinto, Miguel Anacoreta Correia, José Paulo Castro Coelho, Martim Borges de Freitas, Girão Pereira e Manuel Machado, enquanto outros nomes da direcção são, nomeadamente, Sílvio Servan, Lino Ramos, João Vacas, Tita Maurício, Pedro Pestana Bastos, Isabel Gonçalves, Paulo Núncio, João Varandas, Ricardo Vieira, Nuno Fernandes Tomás, João Mota Campos, José Paulo Carvalho. Há uma aposta nos antigos monteiristas e nogueirapintistas que não saíram do partido, raros são os freitistas e não parece suficientemente estruturadora a linha dos velhos portistas, apesar de todos dele terem sido apoiantes institucionais, embora não entusiásticos. Segundo uma linguagem blogosférica, até podemos dizer que o "No Quinto dos Impérios" suplantou "O Acidental", onde os adjuntos do Parlamento Europeu venceram os assessores do ex-ministro da defesa. De certa maneira, o CDS transforma-se no herdeiro de Adelino Amaro da Costa e no desenvolvimento dos "cursilhos" do IDL e da Fundação Konrad Adenauer...

Com uma palavra bem amiga, gostaria de esclarecer os meus queridos críticos, especialmente os que têm ódios de estimação contra os hierarcas de ontem e de hoje do CDS/PP, que, ao contrário do que os mesmos anunciaram, não tenho complexos nem fantasmas e posso livremente falar num partido que já antes da queda do Muro me era alheio, notando aquilo que considero o bem e o mal em tal novo ciclo, principalmente depois da desportização anunciada. Sei muito bem o que não quero e para onde não vou, para parafrasear ao contrário, e no contra, o que um velho autocrata determinou quando nos mandou para lugar nenhum.