Asco
Sempre aguentei, com alguma delicadeza, as impertinentes, mas espertas, atitudes discursivas de Paulo Portas, enquanto jornalista, líder político e ministro. Nunca subscrevi os respectivos escritos, nunca votei nos partidos em que era, ou é, militante, tal como nunca quis obedecer institucionalmente às repartições que ficaram sob a respectiva hipótese de despacho. Nunca. Assim, nesta hora da respectiva partida para um interregno sem prazo, ouço o clamor testamentário que vai emitindo e percebo a estreiteza da viela hipócrita em que caiu a chamada direita portuguesa, muito particularmente o partido que ele e o descendente do primeiro comissário nacional da Mocidade Portuguesa formataram.
O ex-autocrata ministerial que agora fala na "falta de combatividade cultural do centro e da direita em Portugal" é o mesmo mediacrático torquemada burguês que tentou silenciar, denegrir ou liquidar todos os divergentes dos respectivos enganos sobre a "linha justa", segundo a teoria leninista que treinou na campanha eleitoral de Freitas do Amaral, saneando e insultando todos os divergentes da respectiva idiossincrasia. E mesmo os seus inimigos dilectos, ex-amigos de confidência, muitas vezes, não passam de irmãos-inimigos, com idêntica contaminação mental de clique.
O ex-senhor ministro da defesa é o mesmo autocrata que saneou, das instituições que dirigiu, toda a gente de direita que o não aclamou, como me aconteceu a mim, graças à actuação de vários jagunços pretensamente intelectuais, aliados a ex-hierarcas salazarentos e com o apoio da cáfila de assessores que andavam à solta, sempre bem compensados pelos valores monetários com que foi aspergindo a pretensa direita das causas.
Quando a persiganga, depois de democraticamente derrubada, se arma em bombeiral choraminguice, declarando querer combater os incêndios que provocou, rebolo-me de gozo. O senhor jornalista, feito político e ministro, saneou, perseguiu, insultou, difamou e mandou sanear, perseguir, insultar e difamar aquilo que agora invoca como necessário para a regeneração.
Por isso, continuarei a dizer que, se Vossa Senhoria é a direita, eu serei da extrema-esquerda. Porque nunca ninguém da esquerda democrática alguma vez fez aos adversários da direita o que a direita destruída por tal alteza desencadeou. Nem sequer os comunistas. Vossa Senhoria não discriminou, mas perseguiu, pensando que era absolvido por falsas benzeduras de uma teatrocracia inautêntica. Amen.
Já consultei todos os livros que possuo daquele que o mesmo encenador da política qualificou como o principal teórico da democracia-cristã em Portugal, talvez recordando alguns dos escritos insultuosos que, outrora, tal jornalista emitiu contra a ideologia em causa, mas não encontrei nenhum subsolo filosófico minimamente compatível com aquilo que, em termos comparativos, se define como a democracia-cristã. Também toda a literatura politológica inventariada sobre a matéria nem sequer o inclui como nota de pé-de-página em tal sector mental. Mas como o "menti, menti, que, da mentira, alguma coisa fica" ainda é eficaz, apenas noto como o comentarismo político lusitano se reduz ao "slogan" e à parangona. Sobretudo quando nele dominam mentalidades de esquerda que não costumam ler o que a direita escreve. Assim, até é possível encontrar especialistas em Jacques Maritain que nunca leram as respectivas obras antes de as encomendarem à pressa, quando fingiam que eram o que nunca foram. Esperemos que ainda nos brindem com um livro póstumo sobre as "confissões de um homem religioso"...
Basta notar a reportagem imediata sobre a matéria: Portas mais aclamado que Papa Bento XVI. O início dos trabalhos do XX Congresso do CDS-PP, na antiga FIL, em Lisboa, ficou pautado por um requerimento à mesa de aclamação à eleição do Papa Bento XVI. De pé, os congressistas aplaudiram a escolha de Ratzinger. Mas a chegada de Paulo Portas, minutos depois, interrompeu os trabalhos ... e fez militantes e simpatizantes aplaudirem de pé o líder demissionário que se manterá à frente do partido por mais 48 horas.
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