Comemorando o 25 de Abril...
Graças à gentileza da gestão social-democrata do município lisbonense, principalmente à vereadora Ana Sofia Bettencourt, que, apesar de açoriana, faz parte desta "cidade feita por subscrição nacional", tive hoje a oportunidade de comemorar o 25 de Abril, no espaço Juventude@Lisboa, Edifício do Lápis do Bairro do Armador, Olaias. Entre políticos práticos e alguns teóricos, todos com o vício abrileiro dos homens sem sono, bem como na presença de uma excelente investigadora auxilar de um dos mais prestigiados dos nossos institutos de estudos sociais, também docente na universidade concordatária, não comentámos a eleição de Bento XVI, mas fizemos tertúlia, com algumas anedotas pelo meio e inúmeras divergências,britanicamente sublimadas com pouca fleuma, de um lado, e fortes insinuações irónicas, do outro, o meu. Mais uma vez, cheguei à conclusão de que vale a pena tentarmos responder às perguntas que não têm resposta, neste exercício do pensamento em acção, a que alguns chamam preguiça.
Invoquei a metáfora do velho, do rapaz e do burro, onde, às vezes, o burro é que é o menos burro, numa história que não me parece desonesta, e também conclui que a diferença fundamental entre a direita que podemos ter e a esquerda a que chegámos está na circunstância de grande parte da esquerda não ler o que a direita escreve, a qual também não tem que receber, de pretensos papas domésticos, as acusações de ultraconservadora e reaccionária, só porque não pediu o adequado certificado de bem comportamento democrático a certas congregações inquisitoriais para a defesa do dogma, de acordo com a clássica observação dos neodogmáticos pretensamente antidogmáticos.
Mas, desta, não me submeti a cronológicas e analíticas deduções que, muito cientificamente, alguém continua a decretar numa campanha inspirada por patriarcais semeadores das luzes do milénio, que nisso têm conveniência e oportunidade. Desta, também não solicitei os fundamentos científicos de algumas isentas qualificações, nem rqueri que me fossem indicadas as vias bibliográficas e as recolhas de informação existentes em certas distintas pesquisas. Preferi a via camiliana de transição para as ramalhadas.
Também não manifestei a minha disponibilidade para a instituição de um rápido e eficaz movimento de caça aos fascistas que livre a nossa democracia pluralista desses ferozes bandos de extremistas da direita e, caso seja possível, também de outros não menos ferozes criadores dos totalitarismos do centro, da direita e da esquerda, incluindo ex- e actuais fascistas, estalinistas, trotskistas, maoístas, miguelistas, congreganistas, integralistas, maurrasianos, ministros de Salazar, Vasco Gonçalves, admiradores de Pol Pot e outros que tais. Nem desejei que, disso, estivessem isentos certos devaneios juvenis de totalitarismo esquerdista de actuais e pretensos professores e monopolizadores do conceito de democracia.
Para outros bons entendedores, aqui ficam as minhas meias palavras, que nada têm a ver com a magnífica assistência com quem dialoguei, mesmo quando contradisse, denunciando dois dos principais perigos que marcam as democracias: o indiferentismo e a corrupção. Reconheço, contudo, que não me consegui livrar desta minha nefasta tendência para a polémica e acabei por dizer, olhos nos olhos e perante o testemunho de muitos, o que costumo escrever em cartas e "mails", incluindo os que não têm resposta directa por quem continua a refugiar-se na roupagem científica para fazer ataques políticos. Garanto que nunca participarei na criação de qualquer Bloco de Direita, à imagem e semelhança do Bloco de Esquerda, só porque há modas que passam de moda.
À margem, também verifiquei, com agrado, que o santanismo ainda anda por aí a conversar com o povo. Confesso, sem ironia, que seria empobrecedor que tal semente passasse ao regime das espécies em vias de extinção.
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