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Sobre o tempo que passa

Espremer, gota a gota, o escravo que mantemos escondido dentro de nós. Porque nós inventámos o Estado de Direito, para deixarmos de ter um dono, como dizia Plínio. Basta que não tenhamos medo, conforme o projecto de Étienne la Boétie: "n'ayez pas peur". Na "servitude volontaire" o grande ou pequeno tirano apenas têm o poder que se lhes dá...

21.4.05

Pasionarias que passaram, Condoleezas, cardeais, bacalhau e carraspanas, ou o nosso normal anormal



Depois da euforia de notícias papais, as gentes da Lusitânia voltaram ao seu normal anormal, comemorando o evento com a aprovação da nova lei da IVG, destacando-se o discurso de Zita Seabra, a ex-comunista, que foi uma La Pasionaria abortista e que agora, como santanista, deixou que a reacção passasse dentro dela, dado ter vindo dizer que votará contra no referendo sobre a despenalização da IVG. "Por motivos de natureza ética, de consciência e de respeito pelos valores civilizacionais que devem nortear uma sociedade livre, democrática e com respeito pela vida humana", sustentou a deputada, consideranndo ainda "particularmente chocante" que o PS queira mexer numa lei que é "há 20 anos uma lei muito igual à francesa de Simonne Weill, sendo a nossa mesmo um pouco mais permissiva e muito igual à espanhola". Não explicou as razões que nos levam a ter uma comunidade onde, na prática, a teoria é outra, porque enquanto Zita está, hoje, à direita, contra a IVG, já Freitas do Amaral está eufórico porque a secretária de Estado norte-americana, Condoleeza Rice, convidou-o a visitar Washington, na mesma altura em que o actual líder do PSD admitiu que não pretende uma eventual recandidatura do anterior líder à Câmara de Lisboa.



Felizes estão as gentes do Pego, freguesia de Alvorninha, Caldas da Rainha, porque D. José Policarpo permanecerá entre nós e deu uma prova irrefutável sobre a personalidade calorosa de Bento XVI: o novo Papa chorou quando foi felicitado e lágrimas revelam "que tem alguma coisa a dar à humanidade". Já Paulo Portas, que não quer recandidatar-se à câmara de Lisboa, despediu-se dos seus fiéis companheiros em Fátima, com uma jantarada de bacalhau da Noruega. Felizmente, um pouco mais acima, segundo leio no Calino, mais de meio milhar de mulheres da Freguesia de Arazede, Montemor-o-Velho, vão, pelo quarto ano consecutivo, juntar-se para mais um jantar. Trata-se de um convívio que já ganhou raízes na região Centro sendo considerado o maior evento no feminino. Nesta iniciativa “vale tudo”, mesmo apanhar uma grande “carraspana”, um grande “pifo”, uma “besana”, ou seja, como se diz em bom português, uma grande bebedeira! Homens nem vê-los! «O ano passado foi até às quatro da manhã, houve muita animação, muita alegria, e muitas de nós [mulheres] foram para casa com um grãozinho na asa», confessou ao nosso Jornal uma mulher de Arazede (que, obviamente, não quis que o seu nome fosse publicado) e que participou em todos os jantares já realizados. A mesma participante revelou que nestes convívios, as mulheres esquecem «a canseira do dia-a-dia, os maridos e os filhos» e “vingam-se” na farra que elas próprias protagonizam. Ainda mais a Norte, embora ainda no Centro, cerca de 40 pessoas participaram, ontem de manhã e princípio da tarde, numa acção de rua na defesa do uso de peles sintéticas no lugar de peles de animais, frente à loja de roupa Fátima Lopes, em Aveiro, para entregar folhetos aos que passavam e - o que não passou de uma tentativa - entregar na loja um exemplo da alternativa ao sistema que abate animais para abastecer a procura dos criadores de moda.